1. O
OGE-Revisto prevê um crescimento económico de 0,3%, número contestado pelas
principais agências internacionais, afirmando que o crescimento será negativo, alertando
para a aproximação de um período de alto risco social. É indubitável que o
nosso país necessita de crescer de modo sustentável a uma taxa acima de
crescimento demográfico, 3%.
Os preços internacionais do petróleo têm
sido desfavoráveis, acrescendo-se a isso reduzidos níveis da produção, devidos,
essencialmente, aos fracos investimentos realizados no sector e o envelhecimento
natural dos campos mais antigos.
O OGE-Revisto para 2019 perspectiva uma
redução em 38% no Programa de investimento Público, com excepção do investimento
no sector dos Petróleos. A componente privada no investimento total será ainda
muito fraca.
2. É
verdade que o Governo tem recebido sucessivos aplausos públicos de instituições
internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. Porém, são essas mesmas agências que
não se cansam de dizer que, para que o processo de viragem se tornar consistente,
Angola deverá proceder a reformas estruturais capazes de atrair mais e,
sobretudo, bons investimentos privados.
É fundamental a reforma no sector judicial,
para o tornar transparente e mais célere, bem como a melhoria da Lei da
Propriedade e da Lei de Terras que, presentemente, não servem para realizar hipotecas
para os financiamentos. Deve, igualmente, fazer-se acertos na política
monetária e cambial, para estabilizar as variáveis macroeconómicas e facilitar
a movimentação do capital para quem investe em Angola.
3. As
actuais políticas governamentais afiguram-se, pois, contraditórias: i) por um
lado, “empurram” os bancos a conceder mais crédito à economia; ii) mas, por
outro lado, aplica-se uma política monetária e cambial muito restritiva que
dificulta os créditos privados.
Um dos aspectos que se afiguram
contraditórios na política monetária e cambial é o aumento pelo BNA do nível
das reservas obrigatórias pelos bancos comerciais e também dos cativos para as
transferências para o exterior.
Na verdade, a política monetária e cambial
“asfixiou” a economia, diminuindo a capacidade de transações das empresas, com
frequentes encerramentos das suas portas, aumentando o desemprego.
4. No
curto prazo, a aplicação do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) aumentará
os preços dos bens e dos serviços. Adicionando-se, agora, a retirada dos
subsídios aos combustíveis, e o anunciado aumento das tarifas de água e de energia,
estão criadas as condições para, logo de seguida, assistirmos ao agravamento
das condições sociais da população.
5. O
governo propala um especial cuidado com os sectores sociais, porém, os
investimentos aí realizados até agora são demasiado insuficientes.
6. A
presente geografia do crescimento demográfico, centrado essencialmente em
Luanda e em algumas das restantes grandes cidades, é responsável pelo aumento do
Risco de Insegurança: penúria alimentar, crescimento do desemprego urbano, degradação
dos níveis de saúde e o inquestionável aumento dos índices de criminalidade.
7. A
agressiva política de desvalorização da nossa moeda tem tido profundos reflexos
no poder aquisitivo da população, onerando as importações e o investimento
privado.
No curto e mesmo no médio prazo, as
Exportações não aumentarão, pois a nossa pauta exportadora quase que se limita
ao petróleo, e o Investimento Directo Estrangeiro promove a entrada de capitais,
mas, também se traduz numa maior dependência do capital externo.
Não há, pois, condições para ser optimista
e acreditar no êxito do OGE-Revisto 2019!
JUSTINO PINTO DE ANDRADE (06/06/2019)
(REVISTA ECONOMIA & MERCADO)