quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NÃO TEMOS MOTIVOS PARA EMBANDEIRAR EM ARCO…


  1. A Organização Não Governamental Transparência Internacional fez sair o seu habitual Relatório Anual sobre o “Índice de Percepção da Corrupção” e, de imediato, entidades dos países pior colocados no ranking fizeram ouvir as suas vozes de protesto, com o objectivo de desvalorizarem os resultados produzidos.

 

  1. Houve, também, aqui entre nós, quem tenha manifestado contentamento, ao ver melhorada, na sua perspectiva, a imagem pública do nosso país, no que à transparência nos negócios diz respeito. Foi o que fez, por exemplo, o nosso único diário, o Jornal de Angola, ao traduzir o facto em notícia, nos seguintes termos: “Angola com êxito na transparência”. Se eu me tivesse limitado a esta notícia, teria, pela certa, perdido a visão do conjunto e a verdadeira essência do problema. Por isso, retomo aqui o assunto, por que vale a pena um melhor esclarecimento.

 

  1. O chamado “Índice de Percepção da Corrupção” não mede objectivamente a corrupção mas, sim, o modo como a sociedade percebe subjectivamente a corrupção em cada país. Para tal, a Transparência Internacional socorre-se dos depoimentos de empresários e analistas que são convidados a depor sobre o grau de corrupção em cada país.

 

  1. A Transparência Internacional recolhe tais informações a partir de agências internacionais especializadas, como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Banco Asiático e Banco Africano de Desenvolvimento, entre outros. Quem presta tais informações são, pois, os próprios nacionais de cada país. É a sua visão sobre a corrupção nos seus próprios países. Na ausência de um termo mais adequado, diria que é uma “endo-visão”.

 

  1. Outra questão que reputo importante. Não é correcto comparar directamente o resultado actual com os dos anos anteriores, dado que, nos anos anteriores, a nota final de cada país era obtida pela combinação dos resultados obtidos em outros rankings internacionais de corrupção, posteriormente ponderada em função dos desempenhos do país em cada ranking comparados aos dos outros países avaliados. Neste ano de 2012, com a adopção de uma nova metodologia, a etapa de ponderação foi eliminada, e as notas do Índice são calculadas apenas a partir dos dados do ano corrente. Consegue-se, assim, pois, uma melhor imagem das transformações operadas em cada país na luta contra a corrupção. No futuro, facilitará, de uma forma mais clara e directa, comparações anuais.

 

  1. Até 2011, o “Índice de Percepção da Corrupção” estabelecia notas (pontuações) que iam de 0 a 10. A partir deste ano de 2012, o Índice pontua de 0 a 100, sendo que ao nível mínimo corresponde a corrupção mais elevada, corrupção generalizada, e o nível máximo define os países mais limpos de corrupção, ou seja, os menos penalizados por esse fenómeno social.

 

  1. Na presente avaliação da Transparência Internacional, que envolveu 176 países, Angola colocou-se num nada cómodo centésimo quinquagésimo sétimo lugar (157º). Ou seja, o nosso país ficou entre os cerca de 20 países pior colocados.

 

  1. Não existe unanimidade quanto à consistência do “Índice de Percepção da Corrupção”:

 

a)     Há quem o critique pela influência que a corrupção passada exerce sobre os depoentes;

b)    Há também quem o critique pelo destaque que a imprensa geralmente dá a casos isolados de corrupção – condicionando, psicologicamente, os depoentes;

c)     E, igualmente, há quem o critique pelo método de cálculo utilizado que dificulta a sua projecção em séries estatísticas.

 

Mesmo assim, e em termos gerais, é consensual a ideia segundo a qual o “Índice de Percepção da Corrupção” permite retirar informação útil sobre o nível de transparência ou opacidade prevalecente nos diversos países.

 

  1. A experiência recente de avaliações extremamente favoráveis que algumas agências de avaliação do risco de crédito fizeram a determinados bancos que – depois, se verificou serem verdadeiros “gigantes com pés de barro” e que vieram mesmo a falir – de certo modo relativiza o valor desse e de outros indicadores. Contudo, mesmo assim, é sempre possível extrair conclusões interessantes a partir do posicionamento dos países integrantes do ranking.

 

  1. Por exemplo, desde há alguns anos a esta parte, a Somália – país extremamente instável e sem uma governação sólida – repete-se no lugar menos honroso da classificação (corrupção generalizada), e a Nova Zelândia vai tendo lugar cativo nas melhores posições do ranking (ausência de corrupção), juntamente com outros países nórdicos como a Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega, países que têm como parceiro muito próximo Cingapura.

 

  1. Nos últimos lugares da lista é frequente aparecerem Estados com estruturas governativas frágeis e instáveis, onde se desenvolvem, ou desenvolveram, guerras ou conflitos internos, tais como o Afeganistão, Mianmar, Sudão ou Iraque. A Coreia do Norte acompanha-os na cauda da tabela. Para debelar os seus desses países, a Transparência Internacional vai apontando como solução:

 

a)     O reforço das instituições dos Estados frágeis e instáveis;

b)    Uma maior eficácia e independência dos órgãos judiciais;

c)     A criação de órgãos apropriados para combater a corrupção;

d)    A aplicação vigorosa da lei e uma utilização transparente dos orçamentos públicos;

e)     A independência dos órgãos de comunicação, bem como o reforço da sociedade civil.

 

  1. Depois de África, a América Latina é a região do mundo onde se percebem os maiores índices de corrupção. A Venezuela (165º) é tida como o país mais corrupto de América Latina, ombreando com o Haiti.

 

  1. O Brasil (69º) foi cotado como terceiro melhor da América Latina (tendo apenas a sua frente o Chile e o Uruguai) e o menos corrupto entre os BRIC’s, os países emergentes que mais crescem no mundo: Brasil, Rússia (133º), Índia (94º), China (80º) e África do Sul (69º). O Brasil partilha tal posição com a África do Sul.

 

  1. A actual melhor imagem do Brasil será, seguramente, e em grande medida, devida ao julgamento do chamado “Mensalão”, que pôs nas barras do Tribunal político importantes e empresários, assim como às recentemente aprovadas “Lei da Ficha Limpa” e “Lei de Acesso à Informação”.

 

  1. O Botsuana (30º) lidera os países africanos, países, por regra colocados nos lugares derradeiros da Tabela.

 

  1. Do conjunto dos países lusófonos, Portugal (33º) é tido como o menos corrupto, perseguido muito de perto por Cabo Verde (39º). Seguem-se São Tomé e Príncipe (72º), Timor-Leste (113º), Moçambique (123º) Guiné-Bissau (150º). Angola (157º) é o país lusófono onde se percebe melhor a corrupção.

 

  1. Repito, a lista da Transparência Internacional inclui 176 países e nós somos o 157º. Não temos, pois, ainda, os angolanos motivos sérios para embandeirar em arco, como fez o nosso único jornal diário… Nem será por efeito de mera propaganda que deixaremos para outros o lugar incómodo em que hoje nos situamos. Será, sim, por acções concretas e pelo respeito das leis aprovadas, que até já existem.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.

VELHOS PROBLEMAS QUE REQUEREM NOVAS SOLUÇÕES


  1. As notícias que nos chegam da República Democrática do Congo são, de facto, alarmantes. Elas dizem que as forças armadas governamentais se retiraram da cidade de Goma – a capital da Província do Kivu Norte – onde estão ser perpetradas atrocidades contra a população civil, inclusive, contra crianças, sem que as forças das Nações Unidas lá estacionadas façam algo para conter o avanço rebelde e parar a carnificina.

 

  1. Aparentemente, a degradação da situação politica naquela região da RDC, e dos Grandes Lagos, deveu-se à constituição de um grupo rebelde denominado M23, que é integrado, sobretudo, por desertores do exército governamental. Eles que acusam o governo do Presidente Kabila de incumprimento dos acordos firmados depois do fim do último conflito militar que terminou em 2008.

 

  1. Sabe-se, porém, que a composição étnica do M23 é maioritariamente tutsi, o grupo que possui um forte controlo sobre o poder no Ruanda e no Uganda, países que se diz serem o seu principal suporte político e militar.

 

  1. Com este novo cenário, estamos, pois, a reviver pelo menos os contornos do velho drama da Região dos Grandes Lagos, ele que tem sido o palco privilegiado de constantes turbulências, por regra, terminando em chacinas e genocídios.

 

  1. A Região dos Grandes Lagos é um espelho da arbitrariedade que presidiu ao processo de constituição e criação da grande maioria dos países africanos, com estados feitos com base no mais puro interesse imediato das potências colonizadoras. Nessa região central e oriental de África prevaleceram, sobretudo, como potências coloniais a Inglaterra, que colonizou a Tanzânia e o Uganda, e a Bélgica, que colonizou a RDC, Ruanda e Burundi.

 

  1. A Conferência de Berlim de 1885 permitiu a demarcação de fronteiras sem qualquer obediência às divisões territoriais, políticas e culturais tradicionais das populações locais, fazendo com que inúmeras tribos de culturas diferentes se vissem confinadas dentro dos novos espaços coloniais. Fizeram-se países que possuem todos os ingredientes típicos de uma bomba com retardador…

 

  1. Os Reinos do Ruanda e do Burundi tornaram-se possessões alemãs que os governaram de forma indirecta mas em conjunto. Até que, fruto da derrota alemã no término da Primeira Guerra Mundial, passaram para a alçada do Reino da Bélgica. Os belgas também optaram por um controlo indirecto desses territórios, mas apoiando sempre o poder da minoria tutsi, quer num território, quer no outro. Relegando os hutus para um plano secundário, deixaram aceso o rastilho para uma explosão futura.

 

  1. A colonização pelos belgas do território da RDC começou logo depois do término da Conferência de Berlim, com a constituição do Estado Livre do Congo que, poucos anos depois, foi anexado com a designação de Congo Belga.

 

  1. O vasto território do Congo Belga incorporava cerca de 200 grupos com grande diversidade cultural, linguística, política e religiosa. Trata-se também de um país extremamente rico em recursos naturais, minerais e hídricos, e com uma fauna e flora abundantes.

 

  1. Aos velhos conflitos decorrentes da colonização sucederam-se novos conflitos na Região dos Grandes Lagos, sendo o de pior memória o que ocorreu em 1994, e que culminou com o genocídio do Ruanda que terá custado a vida a milhares de homens e mulheres.

 

  1. O conflito de 1994 produziu um enorme fluxo de refugiados quer para um lado, quer para o outro; quer para o Ruanda, quer para a RDC, mas, também, para o Uganda e até mesmo para a Tanzânia.

 

  1. A comunidade internacional mostrou-se incompetente para evitar a tragédia. Foram constituídos na RDC, especialmente nos territórios do Leste, Kivu Norte e Kivu Sul, campos para receber refugiados vindos do Ruanda, para onde também se dirigiram antigos militares do derrotado governo ruandês, assim como das tristemente famosas milícias Interahamwe, os principais responsáveis pelo genocídio. No território congolês, organizaram-se política e militarmente, passando a fazer incursões para dentro do território do Ruanda. Esta internacionalizando do conflito deu-lhe também uma dimensão regional, e o surgimento de novos actores, até aí aparentemente adormecidos: os chamados banyamulengues, os tutsis da RDC.

 

  1. O conflito da Zona Leste da RDC tem uma dimensão étnica, embora também possa ser visto como a ambição de países superpovoados, como o Ruanda, estarem a procura de expandir as suas fronteiras ganhando espaço vital. Tem igualmente a ver com a procura de recursos minerais de grande procura internacional como, por exemplo, o diamante, o ouro ou o cobalto.

 

  1. Mesmo com todos os acordos subsequentes, o conflito no Kivu Norte prossegue, e não é de espantar se, dentro de breve tempo, ouvirmos dizer que o Kivu Sul também passou a soltar labaredas… Tudo aponta para aí. O destino dessas duas regiões está indissoluvelmente ligado.

 

  1. O futuro da geografia política da RDC é uma das grandes incógnitas africanas. Trata-se de um país central, não apenas pela sua localização geográfica, também pela sua extensão e, sobretudo, pela sua complexidade.

 

  1. O desenvolvimento da RDC vai-se adiando para cada vez mais tarde e, quer queiramos, quer não, o futuro do nosso continente está, de certo modo, ligado aos desenvolvimentos que a RDC tiver.

 

  1. Uma coisa é certa: a RDC e a Região dos Grandes Lagos reeditam, afinal, velhos problemas. São velhos problemas que exigem novas soluções, soluções mais apropriadas aos tempos que correm.