- A vida académica –
que é a minha grande paixão – corre a uma velocidade diferente da das
outras dimensões do percurso da minha vida. Ela corre, talvez, mais lentamente,
pois tem como referência directa não já o ano de calendário, mas, sim, as
sucessivas gerações de alunos que os professores ajudam a formar.
- Hoje, à medida que o
tempo passa e, cada vez mais frequentemente, vou me encontrando com
ex-alunos que me saúdam, exibindo, por norma, um largo sorriso de satisfação.
Um sorriso que transporta, seguramente, a mensagem de apreço pelo modo
como nos conseguimos relacionar e interagir nas aulas e nos corredores das
escolas.
- Quando recebo esse sinal
gratificante sinto como tem sido bom participar na formação científica e
técnica num país como o nosso que partiu quase do zero, e que hoje já
possui um número bastante razoável de quadros, muitos deles de grande valia.
É esse resultado que torna mensurável a actividade docente. É também esse
resultado que permite disfarçar e tornar secundários todos os constrangimentos
que a vida académica envolve.
- Mas, a vida
académica não se esgota apenas na docência clássica, nas aulas formais,
ela também se afirma por intermédio da transmissão da experiência vivida
e, sobretudo, na pesquisa, na investigação. A actividade do investigar
passa por vezes desapercebida, dado que aparece num outro ângulo de visão.
A actividade do investigador situa-se muito longe dos olhares curiosos e,
até mesmo, em espaços pouco mediáticos e de reduzida visibilidade. Mas ela
é de uma importância incomensurável.
- Por tudo isso, trago
hoje para a nossa conversa muito concretamente o simbolismo do
investigador, pois acabamos de comemorar os primeiros 10 anos desde a
fundação do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade
Católica de Angola, o CEIC.
- O Centro de Estudos
e Investigação Científica de Angola foi um projecto que nasceu menos de 4
anos depois de se termos iniciado os primeiros cursos ministrados na UCAN.
Surgiu, formalmente, em 6 de Março de 2002, através de um despacho do
Magnífico Reitor, Dom Damião Franklin. É bom recordar os seus primeiros
passos, a sua génese, porque a sua história ainda decorre e espero que
tenha uma eternidade à sua frente.
- De início, o Reitor
da UCAN ordenou a constituição de uma equipa de académicos de que fiz
parte, juntamente com o Dr. Carlos Leite (um cidadão português que também
é canadense, com a particularidade de ter nascido em Angola. Na altura,
estava entre nós como representante do FMI), e com os Drs. Emílio Rafael
Moreso Grion, Adão Avelino, Ennes Ferreira (professor de universidades em
Portugal, e com fortes ligações históricas a Angola) e o actual Director
do CEIC, o Dr. Alves da Rocha.
- Na criação do CEIC
estiveram sempre presentes, e muito profundamente envolvidos o Reitor e o
então Vice-Reitor, Dom Filomeno Vieira Dias, assim como Monsenhor José
Alves Cachadinha, que é, reconheça-se, um dos esteios da UCAN e da sua
vertente de investigação. Juntaram-se depois a esta pequena equipa inicial
mais quadros docentes e ligados à investigação, como a Dr.ª Noelma Viegas
D’Abreu (a segunda Directora do CEIC) e, posteriormente, o Dr. Salim
Valimamade.
- O CEIC deve também
muito do seu êxito ao contributo de diversos colaboradores internos e
externos, que não consigo enumerar aqui, mas foram bem referenciados no
acto solene de apresentação do seu 10º Relatório Económico Anual e do
Relatório Social.
- O mérito destes 10
anos do CEIC não pode ser visto somente pela capacidade que demonstrou em
apresentar sucessivos Relatórios (Económico, Energia e Social) cada vez
melhor elaborados mas, também, por ter envolvido nos seus trabalhos alguns
dos bons alunos da UCAN, que passaram, assim, a tomar contacto e gosto
pela investigação científica e poderão funcionar como um garante da
continuidade deste projecto.
- Sinto-me orgulhoso
por ter participado na génese desse espaço de investigação. Sinto-me feliz
por tido oportunidade de apreciar, no evolução do CEIC, o modo como os
meus companheiros conseguiram dar corpo e alma a um rebento que teve
vários país, os seus colaboradores, e uma só mãe, a UCAN. Sinto que é
bastante gratificante constatar que o CEIC é das unidades orgânicas que
mais prestígio dá à UCAN, projectando-a para além fronteiras.
- Os trabalhos de investigação produzidos
pelo CEIC são já uma referência no mundo académico angolano e muito
procurados pelas diversas chancelarias internacionais instaladas em
Angola. São, também, objecto de procura pelas empresas que estão presentes
e pelas que pretendem instalar-se no nosso país. Isto confere-lhe
reconhecimento e estimula-o a prosseguir na melhoria da sua prestação.
- Hoje, outras
instituições de ensino superior manifestam publicamente vontade de
montarem elas também os seus Centros de Investigação. Fazendo-o, ajudarão
na criação de uma verdadeira malha de investigação de que o país necessita
e de que retirará proveito valioso no médio e no longo prazo.
- Os Relatórios
periódicos produzidos pelo CEIC consolidam informação proveniente de
variadas fontes e apresentam igualmente resultados das suas próprias
avaliações. Constituem, assim, instrumento de trabalho para a tomada de
decisões por parte de quem actua com base em informação credível.
- Por exemplo, no
último Relatório do CEIC ficou claro que, depois de um curto período de extraordinário
crescimento da nossa economia, a que se resolveu chamar “mini-período de
ouro”, sobreveio um período de ainda curto mas profundo abrandamento,
colocando-nos a crescer a taxas inferiores à do crescimento médio do conjunto
do nosso continente, e mostrando a nossa vulnerabilidade face à conjuntura
internacional adversa.
- Aquando da
apresentação do Relatório Anual, o Director do CEIC, o Dr. Alves da Rocha,
fez questão de assinalar que o processo de libertação da actual dependência
do petróleo será demorado, e que ela só pode ser eficaz se nos impusermos
políticas consistentes de diversificação económica. Um dos pilares dessa
diversificação será a aposta na inovação e no progresso tecnológico,
alcançáveis se conseguirmos redobrar os esforços nas áreas de investigação
pura e da investigação aplicada.
- Com um crescente
envolvimento das Universidades será mais possível encurtarmos o caminho
para a vitória sobre o subdesenvolvimento. A UCAN e o CEIC colocaram-se na
vanguarda. Os reconhecimentos vêm de diversas origens. Os apoios, por
maiores e mais generosos que sejam, serão sempre insuficientes, porque as
necessidades são crescentes. Mas nós acreditamos – e quem acredita está
vocacionado para vencer…
- Parabéns, pois, ao
CEIC e à UCAN!