quarta-feira, 7 de outubro de 2009

UMA NOVA ORDEM MUNDIAL

1. Pelos dados que foram recentemente apresentados sobre o desempenho, no segundo trimestre do corrente ano, das principais economias do mundo, são cada vez mais evidentes os sinais de recuperação da economia mundial. Começam, assim, a ser sinalizados com taxas de crescimento positivas certos indicadores que expressam o seu desempenho. As previsões para os terceiro e quarto trimestres denotam, igualmente, uma recuperação, mesmo que tímida. Porém, para o ano de 2010, os analistas perspectivam mais sólidas melhorias.

2. Quanto ao desempenho de Angola, subsistem dúvidas, face às posições contraditórias assumidas pelas principais agências especializadas, mesmo que se assista a um discurso optimista por parte das nossas autoridades. O último Relatório do Fundo Monetário Internacional, divulgado na Quinta-Feira, dia 1 de Outubro, prevê uma quase estagnação da economia angolana, para este ano, ao apontar para uma taxa de 0,2%. Este valor está muito próximo do avançado pelo Banco Mundial, e fica, porém, demasiado distante dos 6,1% inseridos no Orçamento Geral do Estado revisto. Todavia, o Banco Mundial acredita que a economia angolana ainda assim possa crescer, desde que o sector petrolífero cresça acima dos 10%, o que se afigura pouco provável, se tidos em conta os dados que vêm saindo a público.

3. A actual crise económica éa mais grave, desde a Grande Depressão que teve lugar nos Estados Unidos da América, entre os anos 1929 e 1933. Nessa época, o processo de integração das diversas economias, nem de perto, nem de longe se parecia com o que hoje existe. A ainda pouca integração das economias nessa época explica, pelo menos em parte, que as repercussões além-fronteiras da Grande Depressão tenham sido relativamente reduzidas.

4. A Grande Depressão foi uma crise local. Mas, hoje, fruto das múltiplas interligações financeiras e económicas que se teceram, o descalabro do mercado imobiliário norte-americano e a consequente falência de algumas das suas principais agências financeiras, repercutiram-se, de imediato, quer nas restantes esferas da economia dos Estados Unidos da América, quer sobre o exterior. É caso para dizer que uma maleita americana contaminou a saúde de toda a economia mundial. Logo, a crise actual é global.

5. As crises nas economias de mercado são um fenómeno recorrente e fazem parte da própria essência do capitalismo. No passado, surgiram várias interpretações sobre a essência das crises do capitalismo. Recordo, por exemplo, a visão do economista soviético Nicolai Kondratiev, que atribuía a razão das crises às inovações tecnológicas. Ele chegou mesmo a postular que as depressões económicas prolongadas que acompanham as crises se repetiriam por períodos de 50 a 60 anos. Também o economista austríaco Joseph Schumpeter acompanhou o pensamento de Kondratiev, pormenorizando, porém, ainda mais o modo da repetição das crises. Por sua vez, John Maynard Keynes, talvez o economista mais renomado do século XX, contribuiu, sobretudo, com fórmulas para a sua superação.

6. Foi Karl Marx quem realizou o estudo mais aprofundado sobre o fenómeno das crises capitalistas. Para Marx, o excesso de produção, motivado pela concorrência irracional entre os produtores, estava na base das crises do sistema. A procura desenfreada do lucro por parte dos proprietários e o aumento da miséria das classes trabalhadoras criariam as condições para o desencadear de sucessivas crises. Marx chegou ao ponto de profetizar a emergência de uma Crise Geral capaz de enterrar, em definitivo, o sistema capitalista de produção. É a sua célebre Teoria da Catástrofe Inevitável do Capitalismo.

7. Quando o mundo mergulhou na presente crise global, alguns políticos e analistas terão pensado que, finalmente, acontecera a previsão de Karl Max. Mas, como vemos agora, tal não sucedeu. Felizmente, houve também políticos que perceberam bem a urgente necessidade de uma maior intervenção do Estado nos processos económicos, aumentando o seu poder como agente regulador.

8. Se comparadas também com a presente crise, as crises económicas que ocorreram na década de 1990 não tiveram lugar em economias desenvolvidas. Elas ocorreram, por exemplo, no México, em alguns países asiáticos, na Rússia e no Brasil, com uma repercussão muito menor. Elas nunca puseram em causa a sobrevivência da economia mundial.

9. A presente crise nasceu precisamente na economia mais desenvolvida do mundo, os Estados Unidos da América, e, logo de início, ela abalou praticamente todo o seu sistema financeiro. Pela importância global da economia norte-americana, a crise espalhou-se para a grande maioria dos países desenvolvidos. Depois, chegou a vez das economias emergentes e das economias dos países subdesenvolvidos receberem os seus impactos, evidenciando, pois, o carácter global da crise.

10. Uma pronta resposta dada pelos governos dos países mais avançados, ao cederem liquidez ao sistema financeiro, e ao definirem novas regras de funcionamento desse mesmo sistema financeiro, terá evitado um maior descontrolo ou até mesmo o colapso das economias. O governo dos Estados Unidos da América foi ainda mais longe, ao ponto de interferir directamente no funcionamento de algumas empresas industriais, como aconteceu com a General Motors. Barack Obama não só injectou liquidez pública no gigante do mundo automóvel, como também reestruturou e definiu novos padrões de produção.

11. Hoje, quando já se nota um crescente optimismo quanto às hipóteses de recuperação da economia mundial, é justo assinalar o papel desempenhado pelas principais economias emergentes, nomeadamente a China e Índia, e mesmo até o Brasil. Sem sombra de dúvidas, eles foram os verdadeiros motores da presente recuperação económica. Pelo seu papel crescente, merecerem, pois, um espaço mais alargado nas tomadas das decisões políticas na arena internacional.

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