1. Estoirou como uma autêntica bomba a notícia sobre a decisão do Parlamento da República Democrática do Congo de suspender o projecto de construção da Inga III, uma barragem que seria edificada sobre as águas do rio Zaire. A obra estava enquadrada no chamado “Projecto de Desenvolvimento do Corredor Eléctrico Ocidental”, (Westcor), envolvendo, para além da RDC, países como Angola, África do Sul, Namíbia, Botswana e Congo-Brazzaville.
2. Ao concretizar-se, a barragem Inga III seria a maior barragem do mundo, tirando proveito das enormes quedas de água do Inga, consideradas como as segundas maiores cataratas do mundo. As quedas de água do Inga estendem-se por 14,5 quilómetros de rápidos caindo de uma altura de cerca de 100 metros, daí que debite uma elevada quantidade de água.
3. A concepção do projecto inicial, que deu origem às duas barragens actualmente existentes, a Inga I e a Inga II, data do período colonial, mais concretamente de 1920, tendo a sua conclusão decorrido em 1972 e 1982, respectivamente. Por falta de uma cuidada e conveniente manutenção, ambas barragens encontram-se em estado degradado, operando com 40% da capacidade instalada. Cerca de metade das suas 14 turbinas estão inoperacionais.
4. A terceira central hidroeléctrica do projecto, a Inga III, iria adicionar ao sistema à volta de 4.300 megawatts de energia, o equivalente a 8 vezes a barragem de Capanda. Para compreendermos melhor a grandiosidade do empreendimento, recordo que a capacidade actual da barragem de Capanda ronda os 520 megawatts.
5. O “Projecto de Desenvolvimento do Corredor Eléctrico Ocidental” está inserido na estratégia de integração regional e de desenvolvimento da SADC, e, igualmente, na NEPAD (Nova Parceira Económica para o Desenvolvimento de África). Ele é muito mais amplo que a construção de mais uma barragem, pois contempla uma linha de transporte de alta tensão com 3.000 quilómetros, em direcção à África do Sul, passando por Angola, Namíbia e Botswana.
6. Um estudo realizado pelos franceses da “Electricité de France”, juntamente com os alemães da “Lahmeyer International”, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apontou ainda para a construção de uma outra barragem, que seria a Inga IV, a Grande Inga, com a fabulosa capacidade de produzir acima de 30.000 MW de energia. De seguida, surgiria uma auto-estrada de transporte de energia na ordem dos 5.300 quilómetros, até à barragem de Assuão, no Egipto. Previa ainda conectar o projecto do Inga com a barragem de Calabar, na Nigéria.
7. O Projecto Global do Inga teria, pois, capacidade para produzir 40.000 MW de energia, ultrapassando grandemente a capacidade da barragem de Cahora Bassa, em Moçambique, que possui capacidade para a produção de 2.500 MW de energia que, mesmo assim, é 5 vezes superior a Capanda.
8. O custo estimado do projecto de construção da barragem do Inga III aponta para 4 mil milhões de usd. O Projecto Global atingiria os 80 mil milhões de dólares. Daí ser necessário o envolvimento de vários governos, poderosos bancos, e até mesmo gigantescas empresas de construção civil.
9. O potencial da Rede de Barragens do Inga é o dobro da potência da maior barragem do mundo, a “Três Gargantas”, sobre o rio Yangtzé, na China. A “Três Gargantas” tem uma potência de 22.500 MW.
10. O potencial de produção de energia hidroeléctrica da RDC ronda os 100.000 megawatts. Subtraídos os cerca de 40.000 megawatts, que é o potencial da Rede de Barragens do Inga, restarão 60.000 megawatts dispersos por outros locais do país. Actualmente, a RDC utiliza apenas uma ínfima parte do seu vasto potencial.
11. É altura de fazermos um exercício comparativo com o potencial de produção hidroeléctrico de Angola. Nas 6 grandes bacias hidrográficas dos rios Kwanza, Keve, Kunene, Catumbela, Longa e Lucala, o potencial hidroenergético de Angola anda em torno dos 15.000 MW, descontando eventuais pequenas barragens capazes de produzir abaixo dos 50 MW. Mas, esta avaliação contempla apenas 40% do território nacional. A nossa actual capacidade instalada corresponde a pouco mais que 3% do nosso potencial hidroenergético reconhecido pelos estudos técnicos realizados.
12. O projecto da barragem Inga III teria implicações económicas enormes, como, por exemplo, a viabilização da gigantesca fábrica de alumínio da BHP Billiton, no Baixo Congo, ou mesmo a siderurgia da CVRD (Companhia Brasileira do Vale do Rio Doce), no Soyo, em Angola. Esta Companhia Brasileira é a mesma que ganhou, em 2004, o concurso para desenvolver o projecto de exploração das minas de carvão de Moatize, na Província de Tete, em Moçambique. Estes dois projectos de desenvolvimento mineiro consumiriam, em conjunto, 1.800 MW de energia, mais do que os 1.700 MW eventualmente gerados pelas barragens Inga I e Inga II.
13. Quando se analisa um projecto desta natureza, há que ter em conta eventuais (ou previsíveis) implicações ambientais, quer sobre a fauna e a flora, quer directamente sobre as pessoas. Por exemplo, podem ter impactos negativos sobre a pesca fluvial (acabar com a migração dos peixes), alterar o fluxo dos sedimentos (essenciais para a ecologia dos rios), ou danificar as florestas ribeirinhas. Estudos recentes apontam para uma acentuada emissão de gás metano pelas barragens, contribuindo assim para o aumento do efeito de estufa.
14. Eu penso que não foram esses os considerandos que levaram os deputados congoleses a rejeitar a implementação do grande projecto de construção da barragem Inga III. Possivelmente, terão sido os avultados custos que o projecto impõe, capazes de sobrecarregar ainda mais as rubricas orçamentais da RDC e, naturalmente, tornar demasiado pesado o seu nível de endividamento.
15. Não coloco, porém, fora de hipótese, o facto de os legisladores congoleses se terem deixado influenciar por um estudo realizado por uma organização internacional, denominada Bretton Woods, que considerou um erro a construção da barragem Inga III. Essa organização – que avalia projectos financiados pelo FMI e pelo Banco Mundial – criticou, em Agosto de 2009, a perspectiva de ampliação da Rede de Barragens do Inga para fornecer energia, por meio de um cabo subterrâneo, a países do sul da Europa. Tal cabo de alta tensão atravessaria o Sahara Ocidental, o Darfur, o Egipto, o Mediterrâneo e chegaria, então, ao sul da Europa. Para reforçar o seu argumento, a Bretton Woods recordou o facto de a Nigéria estar também a preparar-se para fornecer gás à Europa, através de um gasoduto. E disse mais: Como aceitar um projecto que visa alimentar a Europa, quando a própria RDC satisfaz em energia eléctrica apenas 7% da sua população?
16. Aparentemente, a argumentação da Bretton Woods é sedutora. Mas, apenas aparentemente, pois, não podemos perder de vista que a construção da barragem Inga III é tão-somente a primeira parte de um vasto projecto que visa fornecer energia internamente à própria RDC, mas, também, a um vasto conjunto de países vizinhos, ou até mesmo afastados. Seria, também, o início da ligação de um conjunto de barragens, como a do Assuão, no Egipto, e Calabar, na Nigéria, etc. Tal energia tornaria possível viabilizar projectos industriais de grande monta, para além da electrificação de inúmeras cidades e aldeias. Além disso, vendendo parte da sua energia, a RDC arrecadaria receitas que seriam depois aplicadas em outros projectos de desenvolvimento, de que muito necessita.
17. Em resumo, não é possível ganhar-se tudo. Muito menos é possível ganhar-se tudo de uma só vez. É importante, sim, saber definir prioridades, numa perspectiva de médio e de longo prazos. Agora, será já mais complicado pôr-se em marcha o processo de integração das nossas economias. Há, agora, que esperar o surgimento na RDC de lideranças mais visionárias.
2. Ao concretizar-se, a barragem Inga III seria a maior barragem do mundo, tirando proveito das enormes quedas de água do Inga, consideradas como as segundas maiores cataratas do mundo. As quedas de água do Inga estendem-se por 14,5 quilómetros de rápidos caindo de uma altura de cerca de 100 metros, daí que debite uma elevada quantidade de água.
3. A concepção do projecto inicial, que deu origem às duas barragens actualmente existentes, a Inga I e a Inga II, data do período colonial, mais concretamente de 1920, tendo a sua conclusão decorrido em 1972 e 1982, respectivamente. Por falta de uma cuidada e conveniente manutenção, ambas barragens encontram-se em estado degradado, operando com 40% da capacidade instalada. Cerca de metade das suas 14 turbinas estão inoperacionais.
4. A terceira central hidroeléctrica do projecto, a Inga III, iria adicionar ao sistema à volta de 4.300 megawatts de energia, o equivalente a 8 vezes a barragem de Capanda. Para compreendermos melhor a grandiosidade do empreendimento, recordo que a capacidade actual da barragem de Capanda ronda os 520 megawatts.
5. O “Projecto de Desenvolvimento do Corredor Eléctrico Ocidental” está inserido na estratégia de integração regional e de desenvolvimento da SADC, e, igualmente, na NEPAD (Nova Parceira Económica para o Desenvolvimento de África). Ele é muito mais amplo que a construção de mais uma barragem, pois contempla uma linha de transporte de alta tensão com 3.000 quilómetros, em direcção à África do Sul, passando por Angola, Namíbia e Botswana.
6. Um estudo realizado pelos franceses da “Electricité de France”, juntamente com os alemães da “Lahmeyer International”, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apontou ainda para a construção de uma outra barragem, que seria a Inga IV, a Grande Inga, com a fabulosa capacidade de produzir acima de 30.000 MW de energia. De seguida, surgiria uma auto-estrada de transporte de energia na ordem dos 5.300 quilómetros, até à barragem de Assuão, no Egipto. Previa ainda conectar o projecto do Inga com a barragem de Calabar, na Nigéria.
7. O Projecto Global do Inga teria, pois, capacidade para produzir 40.000 MW de energia, ultrapassando grandemente a capacidade da barragem de Cahora Bassa, em Moçambique, que possui capacidade para a produção de 2.500 MW de energia que, mesmo assim, é 5 vezes superior a Capanda.
8. O custo estimado do projecto de construção da barragem do Inga III aponta para 4 mil milhões de usd. O Projecto Global atingiria os 80 mil milhões de dólares. Daí ser necessário o envolvimento de vários governos, poderosos bancos, e até mesmo gigantescas empresas de construção civil.
9. O potencial da Rede de Barragens do Inga é o dobro da potência da maior barragem do mundo, a “Três Gargantas”, sobre o rio Yangtzé, na China. A “Três Gargantas” tem uma potência de 22.500 MW.
10. O potencial de produção de energia hidroeléctrica da RDC ronda os 100.000 megawatts. Subtraídos os cerca de 40.000 megawatts, que é o potencial da Rede de Barragens do Inga, restarão 60.000 megawatts dispersos por outros locais do país. Actualmente, a RDC utiliza apenas uma ínfima parte do seu vasto potencial.
11. É altura de fazermos um exercício comparativo com o potencial de produção hidroeléctrico de Angola. Nas 6 grandes bacias hidrográficas dos rios Kwanza, Keve, Kunene, Catumbela, Longa e Lucala, o potencial hidroenergético de Angola anda em torno dos 15.000 MW, descontando eventuais pequenas barragens capazes de produzir abaixo dos 50 MW. Mas, esta avaliação contempla apenas 40% do território nacional. A nossa actual capacidade instalada corresponde a pouco mais que 3% do nosso potencial hidroenergético reconhecido pelos estudos técnicos realizados.
12. O projecto da barragem Inga III teria implicações económicas enormes, como, por exemplo, a viabilização da gigantesca fábrica de alumínio da BHP Billiton, no Baixo Congo, ou mesmo a siderurgia da CVRD (Companhia Brasileira do Vale do Rio Doce), no Soyo, em Angola. Esta Companhia Brasileira é a mesma que ganhou, em 2004, o concurso para desenvolver o projecto de exploração das minas de carvão de Moatize, na Província de Tete, em Moçambique. Estes dois projectos de desenvolvimento mineiro consumiriam, em conjunto, 1.800 MW de energia, mais do que os 1.700 MW eventualmente gerados pelas barragens Inga I e Inga II.
13. Quando se analisa um projecto desta natureza, há que ter em conta eventuais (ou previsíveis) implicações ambientais, quer sobre a fauna e a flora, quer directamente sobre as pessoas. Por exemplo, podem ter impactos negativos sobre a pesca fluvial (acabar com a migração dos peixes), alterar o fluxo dos sedimentos (essenciais para a ecologia dos rios), ou danificar as florestas ribeirinhas. Estudos recentes apontam para uma acentuada emissão de gás metano pelas barragens, contribuindo assim para o aumento do efeito de estufa.
14. Eu penso que não foram esses os considerandos que levaram os deputados congoleses a rejeitar a implementação do grande projecto de construção da barragem Inga III. Possivelmente, terão sido os avultados custos que o projecto impõe, capazes de sobrecarregar ainda mais as rubricas orçamentais da RDC e, naturalmente, tornar demasiado pesado o seu nível de endividamento.
15. Não coloco, porém, fora de hipótese, o facto de os legisladores congoleses se terem deixado influenciar por um estudo realizado por uma organização internacional, denominada Bretton Woods, que considerou um erro a construção da barragem Inga III. Essa organização – que avalia projectos financiados pelo FMI e pelo Banco Mundial – criticou, em Agosto de 2009, a perspectiva de ampliação da Rede de Barragens do Inga para fornecer energia, por meio de um cabo subterrâneo, a países do sul da Europa. Tal cabo de alta tensão atravessaria o Sahara Ocidental, o Darfur, o Egipto, o Mediterrâneo e chegaria, então, ao sul da Europa. Para reforçar o seu argumento, a Bretton Woods recordou o facto de a Nigéria estar também a preparar-se para fornecer gás à Europa, através de um gasoduto. E disse mais: Como aceitar um projecto que visa alimentar a Europa, quando a própria RDC satisfaz em energia eléctrica apenas 7% da sua população?
16. Aparentemente, a argumentação da Bretton Woods é sedutora. Mas, apenas aparentemente, pois, não podemos perder de vista que a construção da barragem Inga III é tão-somente a primeira parte de um vasto projecto que visa fornecer energia internamente à própria RDC, mas, também, a um vasto conjunto de países vizinhos, ou até mesmo afastados. Seria, também, o início da ligação de um conjunto de barragens, como a do Assuão, no Egipto, e Calabar, na Nigéria, etc. Tal energia tornaria possível viabilizar projectos industriais de grande monta, para além da electrificação de inúmeras cidades e aldeias. Além disso, vendendo parte da sua energia, a RDC arrecadaria receitas que seriam depois aplicadas em outros projectos de desenvolvimento, de que muito necessita.
17. Em resumo, não é possível ganhar-se tudo. Muito menos é possível ganhar-se tudo de uma só vez. É importante, sim, saber definir prioridades, numa perspectiva de médio e de longo prazos. Agora, será já mais complicado pôr-se em marcha o processo de integração das nossas economias. Há, agora, que esperar o surgimento na RDC de lideranças mais visionárias.
Concordo, Sr. Doutor. E Visão é tb. o que rareia por cá...
ResponderEliminarAndamos no jogo da cabra-cega. Luanda às escuras, milhões de USD roubam-se no BNA e ninguém move uma palhinha aos grandes larápios... 135 milhões roiubados do BNA davam para recuperar Mabubas e trazer mais claridade à capital... Ou me engano?