1. Na semana que findou, a economia angolana esteve no centro das atenções, sobretudo porque tivemos entre nós “um hóspede de luxo”, o Professor Paul Krugman, um dos mais renomados economistas da actualidade, que foi laureado com o Prémio Nobel da Economia no ano de 2008. O Professor Paul Krugman visitou Luanda por breves instantes, para participar numa Conferência denominada “Estratégia e Competitividade”, organizada pelo FACIDE, o Fórum Angolano para a Competitividade, Inovação e Desenvolvimento.
2. Por razões da minha própria agenda, não pude estar presente nessa Conferência que decorreu no Centro de Convenções de Talatona. Porém, satisfez-me o facto de a Universidade Católica de Angola, e particularmente a Faculdade de Economia e Gestão, ter tido entre os conferencistas dois dos seus mais prestigiados docentes: os Professores Alves da Rocha e Carlos Rosado de Carvalho. Pelo que eu conheço dos dois, presumo que o seu desempenho terá sido de grande qualidade, ao nível das aulas que ministram na nossa Faculdade.
3. O Professor Alves da Rocha dissertou sobre “A posição estratégica de Angola em África”. Soube que ele apresentou uma perspectiva sobre o desempenho da nossa economia, comparativamente com as economias dos restantes países africanos. Alves da Rocha previu que, caso se mantenham favoráveis certos dos pressupostos económicos actuais, a economia angolana, hoje colocada em 7º lugar, assumir-se-á, em 2014, como a 5º economia africana. Ela será somente superada pelas economias da África do Sul, Nigéria, Egipto e Argélia, ultrapassando, assim, as economias da Líbia e de Marrocos. E Alves da Rocha deu o seguinte recado: É necessário implementar uma estratégia empresarial correcta e sólida; devemos abrir mais a economia ao estrangeiro, se bem que de um modo ponderado; urge aumentar a competitividade das empresas nacionais, assim como em outros domínios da vida nacional.
4. É bom que os nossos decisores políticos entendam estes avisos, sob pena de se gorarem as expectativas criadas. Espero, também, que não vejam novamente o economista e académico angolano como um herege, tal como sucedeu ainda de fresco, o que não é bom para qualquer país, e, sobretudo, para o nosso, pois somos muito carentes de massa crítica. Torpedear-se a liberdade de pensamento, penalizar-se quem pensa diferente, vale, seguramente, na Coreia do Norte, em Cuba, ou no Irão, não num país que diz pretender instituir a democracia como uma regra. Os intelectuais e os verdadeiros académicos não são pombos correio, muito menos devem servir de bocas de aluguer…
5. O Professor Carlos Rosado de Carvalho dissertou sobre “O ABC da Política Económica Angolana: As Lições da Crise”. Julgo que ele terá sido suficientemente explícito na abordagem desta matéria. Recordo que no auge da recente crise económica e financeira internacional, eu, os Professores Rosado de Carvalho, Alves da Rocha e Vicente Pinto de Andrade (por coincidência, todos docentes da UCAN), figurámos entre as poucas vozes de economistas angolanos que não esperaram que o Presidente da República, Eduardo dos Santos, anunciasse publicamente o impacto que a crise internacional estava produzir sobre Angola. Tomámos posição no devido tempo e com a necessária clareza. Não funcionámos, pois, como caixa de ressonância de ninguém como, infelizmente, alguns economistas se comportaram.
6. O Professor Paul Krugman catalogou como animadoras para Angola as perspectivas actuais de estabilização do mercado petrolífero internacional. Para ele, a retoma de algumas das principais economias e o consequente aumento dos consumos de crude, associados a preços de mercado mais favoráveis, gerarão um aumento das nossas receitas de exportação. Destacou ainda, em especial, as implicações positivas das nossas relações comerciais com países que têm conseguido escapar da crise, como a China, Brasil e Índia, contrastando com o mau momento que vivem, por exemplo, as principais economias europeias, a braços com os reflexos da crise internacional.
7. Mesmo assim, Paul Krugman não deixou de caracterizar o nosso país como “um país pobre”, dizendo ainda que o essencial do dinheiro arrecadado com a venda do petróleo deve ser aplicado na educação e na saúde, afinal, os verdadeiros garantes da estabilidade social e por onde se deve travar o combate à pobreza. Ficará célebre a sua asserção segundo a qual “não se desenvolve um país por meio da magia”. Faz-se por meio de políticas económicas e sociais correctas. Paul Krugman não caiu na tentação em que geralmente caiem alguns estrangeiros, quando, para adoçar o ego de alguns, nos caracterizam como um país rico. Se somos ricos, será apenas em potencial.
8. Na realidade, o nosso país é pobre, demasiado caro, muito desigual, tremendamente assimétrico, e bastante penalizador para os seus segmentos mais desfavorecidos. Além disso, o nosso crescimento económico é irregular e está muito dependente de um único produto, o petróleo. Ficando tudo ainda mais agravado pelo facto de o preço do petróleo não depender da nossa vontade. O preço do petróleo que nós vendemos é determinado no mercado internacional, onde estamos inseridos, mas de que não somos um “player” de grande relevo.
9. Somos, também, contraditórios quando nos referimos ao peso do petróleo na formação do nosso Produto Interno Bruto. Por exemplo, em finais do mês de Novembro de 2009, o então Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, afirmou, no Parlamento, que o sector não petrolífero da nossa economia contribuía já com apreciáveis 58% para a formação do PIB, pelo que restariam tão-somente 42% para o sector petrolífero. Na voz do Ministro, isso significava uma clara inversão da importância da posição desses sectores. Estávamos perante uma mudança estrutural importantíssima para a nossa economia, com consequências positivas na criação de muito mais empregos e uma significativa melhoria no bem-estar das populações.
10. Na sua intervenção no Parlamento, o Ministro Manuel Nunes Júnior ilustrou resumidamente o percurso do PIB a partir do ano de 2006. Nesse ano, o crescimento do sector não petrolífero teria sido superior ao do sector petrolífero. Em 2007, o crescimento do sector petrolífero fora de 20,4%, e o do sector não petrolífero de 25,7%. Em 2008, o crescimento do sector petrolífero atingira 12,3%, contra os 15% do sector não petrolífero. Em 2009, o sector petrolífero teve um crescimento negativo de 3,6%, e o sector não petrolífero um crescimento positivo de 5,2%. Para 2010, o Ministro previu um crescimento de 3,4% para o sector petrolífero e um crescimento de 10,5% para o sector não petrolífero.
11. Há, pois, aqui, uma clara inconstância nas taxas de crescimento do PIB. E é bem perceptível o facto de o sector não petrolífero da nossa economia andar muito a reboque da evolução do sector petrolífero que o arrasta, ou, pelo menos, que o acelera ou desacelera.
12. Se é indubitável a relativa aleatoriedade das taxas de crescimento da nossa economia, fruto das circunstâncias e incidências do petróleo, tornou-se para mim mais inquietante a falta de sintonia entre os dados avançados em finais de 2009 pelo então Ministro da Economia, e os dados agora avançados pelo Governador do Banco Central, Abraão Gourgel. No encerramento do “V Encontro de Juristas Bancários de Angola”, Abraão Gourgel disse que o sector petrolífero contribui com 55% para a formação do nosso PIB. O Governador do BNA falou ainda sobre a importância de alguns sectores económicos para a economia e, sobretudo, para a geração de emprego, tendo destacado o papel da agricultura, agro-indústria e construção civil.
13. Estou de acordo com os postulados do Governador do BNA sobre a importância a dar aos sectores não petrolíferos, mas fiquei muito preocupado com a falta de concordância entre os números que foram avançados publicamente por aquelas duas individualidades, no curto espaço de 6 meses. Por exemplo, como foi possível, em apenas 6 meses, o sector petrolífero da nossa economia ter passado de uns estimulantes 42% na formação do PIB (como referiu o então Ministro da Economia), para os novamente preocupantes 55% exibidos pelo Governador do BNA? Alguma coisa não está a bater certo… Será que a estrutura do PIB pode variar tão rapidamente? Tendo havido uma evolução muito positiva no sector não petrolífero da nossa economia, como afirmou o Ministro, ainda assim o sector petrolífero recuperou o seu vigor e o seu protagonismo? Será também que a dinâmica dos números varia em função do auditório a quem nos dirigimos?
14. Para os parlamentares, talvez com o intuito de facilitar a aprovação do Orçamento, o Ministro da Economia disse que o peso específico do sector petrolífero estava a diminuir. Para os juristas bancários (para quem os números poderão querer dizer muito pouco), o Governador do BNA avançou uma percentagem que coloca a nossa e economia, em termos estruturais, praticamente no mesmo patamar em que estávamos antes. Ou será que já estamos diante do velho ditado, que diz: “Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo…”?
2. Por razões da minha própria agenda, não pude estar presente nessa Conferência que decorreu no Centro de Convenções de Talatona. Porém, satisfez-me o facto de a Universidade Católica de Angola, e particularmente a Faculdade de Economia e Gestão, ter tido entre os conferencistas dois dos seus mais prestigiados docentes: os Professores Alves da Rocha e Carlos Rosado de Carvalho. Pelo que eu conheço dos dois, presumo que o seu desempenho terá sido de grande qualidade, ao nível das aulas que ministram na nossa Faculdade.
3. O Professor Alves da Rocha dissertou sobre “A posição estratégica de Angola em África”. Soube que ele apresentou uma perspectiva sobre o desempenho da nossa economia, comparativamente com as economias dos restantes países africanos. Alves da Rocha previu que, caso se mantenham favoráveis certos dos pressupostos económicos actuais, a economia angolana, hoje colocada em 7º lugar, assumir-se-á, em 2014, como a 5º economia africana. Ela será somente superada pelas economias da África do Sul, Nigéria, Egipto e Argélia, ultrapassando, assim, as economias da Líbia e de Marrocos. E Alves da Rocha deu o seguinte recado: É necessário implementar uma estratégia empresarial correcta e sólida; devemos abrir mais a economia ao estrangeiro, se bem que de um modo ponderado; urge aumentar a competitividade das empresas nacionais, assim como em outros domínios da vida nacional.
4. É bom que os nossos decisores políticos entendam estes avisos, sob pena de se gorarem as expectativas criadas. Espero, também, que não vejam novamente o economista e académico angolano como um herege, tal como sucedeu ainda de fresco, o que não é bom para qualquer país, e, sobretudo, para o nosso, pois somos muito carentes de massa crítica. Torpedear-se a liberdade de pensamento, penalizar-se quem pensa diferente, vale, seguramente, na Coreia do Norte, em Cuba, ou no Irão, não num país que diz pretender instituir a democracia como uma regra. Os intelectuais e os verdadeiros académicos não são pombos correio, muito menos devem servir de bocas de aluguer…
5. O Professor Carlos Rosado de Carvalho dissertou sobre “O ABC da Política Económica Angolana: As Lições da Crise”. Julgo que ele terá sido suficientemente explícito na abordagem desta matéria. Recordo que no auge da recente crise económica e financeira internacional, eu, os Professores Rosado de Carvalho, Alves da Rocha e Vicente Pinto de Andrade (por coincidência, todos docentes da UCAN), figurámos entre as poucas vozes de economistas angolanos que não esperaram que o Presidente da República, Eduardo dos Santos, anunciasse publicamente o impacto que a crise internacional estava produzir sobre Angola. Tomámos posição no devido tempo e com a necessária clareza. Não funcionámos, pois, como caixa de ressonância de ninguém como, infelizmente, alguns economistas se comportaram.
6. O Professor Paul Krugman catalogou como animadoras para Angola as perspectivas actuais de estabilização do mercado petrolífero internacional. Para ele, a retoma de algumas das principais economias e o consequente aumento dos consumos de crude, associados a preços de mercado mais favoráveis, gerarão um aumento das nossas receitas de exportação. Destacou ainda, em especial, as implicações positivas das nossas relações comerciais com países que têm conseguido escapar da crise, como a China, Brasil e Índia, contrastando com o mau momento que vivem, por exemplo, as principais economias europeias, a braços com os reflexos da crise internacional.
7. Mesmo assim, Paul Krugman não deixou de caracterizar o nosso país como “um país pobre”, dizendo ainda que o essencial do dinheiro arrecadado com a venda do petróleo deve ser aplicado na educação e na saúde, afinal, os verdadeiros garantes da estabilidade social e por onde se deve travar o combate à pobreza. Ficará célebre a sua asserção segundo a qual “não se desenvolve um país por meio da magia”. Faz-se por meio de políticas económicas e sociais correctas. Paul Krugman não caiu na tentação em que geralmente caiem alguns estrangeiros, quando, para adoçar o ego de alguns, nos caracterizam como um país rico. Se somos ricos, será apenas em potencial.
8. Na realidade, o nosso país é pobre, demasiado caro, muito desigual, tremendamente assimétrico, e bastante penalizador para os seus segmentos mais desfavorecidos. Além disso, o nosso crescimento económico é irregular e está muito dependente de um único produto, o petróleo. Ficando tudo ainda mais agravado pelo facto de o preço do petróleo não depender da nossa vontade. O preço do petróleo que nós vendemos é determinado no mercado internacional, onde estamos inseridos, mas de que não somos um “player” de grande relevo.
9. Somos, também, contraditórios quando nos referimos ao peso do petróleo na formação do nosso Produto Interno Bruto. Por exemplo, em finais do mês de Novembro de 2009, o então Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, afirmou, no Parlamento, que o sector não petrolífero da nossa economia contribuía já com apreciáveis 58% para a formação do PIB, pelo que restariam tão-somente 42% para o sector petrolífero. Na voz do Ministro, isso significava uma clara inversão da importância da posição desses sectores. Estávamos perante uma mudança estrutural importantíssima para a nossa economia, com consequências positivas na criação de muito mais empregos e uma significativa melhoria no bem-estar das populações.
10. Na sua intervenção no Parlamento, o Ministro Manuel Nunes Júnior ilustrou resumidamente o percurso do PIB a partir do ano de 2006. Nesse ano, o crescimento do sector não petrolífero teria sido superior ao do sector petrolífero. Em 2007, o crescimento do sector petrolífero fora de 20,4%, e o do sector não petrolífero de 25,7%. Em 2008, o crescimento do sector petrolífero atingira 12,3%, contra os 15% do sector não petrolífero. Em 2009, o sector petrolífero teve um crescimento negativo de 3,6%, e o sector não petrolífero um crescimento positivo de 5,2%. Para 2010, o Ministro previu um crescimento de 3,4% para o sector petrolífero e um crescimento de 10,5% para o sector não petrolífero.
11. Há, pois, aqui, uma clara inconstância nas taxas de crescimento do PIB. E é bem perceptível o facto de o sector não petrolífero da nossa economia andar muito a reboque da evolução do sector petrolífero que o arrasta, ou, pelo menos, que o acelera ou desacelera.
12. Se é indubitável a relativa aleatoriedade das taxas de crescimento da nossa economia, fruto das circunstâncias e incidências do petróleo, tornou-se para mim mais inquietante a falta de sintonia entre os dados avançados em finais de 2009 pelo então Ministro da Economia, e os dados agora avançados pelo Governador do Banco Central, Abraão Gourgel. No encerramento do “V Encontro de Juristas Bancários de Angola”, Abraão Gourgel disse que o sector petrolífero contribui com 55% para a formação do nosso PIB. O Governador do BNA falou ainda sobre a importância de alguns sectores económicos para a economia e, sobretudo, para a geração de emprego, tendo destacado o papel da agricultura, agro-indústria e construção civil.
13. Estou de acordo com os postulados do Governador do BNA sobre a importância a dar aos sectores não petrolíferos, mas fiquei muito preocupado com a falta de concordância entre os números que foram avançados publicamente por aquelas duas individualidades, no curto espaço de 6 meses. Por exemplo, como foi possível, em apenas 6 meses, o sector petrolífero da nossa economia ter passado de uns estimulantes 42% na formação do PIB (como referiu o então Ministro da Economia), para os novamente preocupantes 55% exibidos pelo Governador do BNA? Alguma coisa não está a bater certo… Será que a estrutura do PIB pode variar tão rapidamente? Tendo havido uma evolução muito positiva no sector não petrolífero da nossa economia, como afirmou o Ministro, ainda assim o sector petrolífero recuperou o seu vigor e o seu protagonismo? Será também que a dinâmica dos números varia em função do auditório a quem nos dirigimos?
14. Para os parlamentares, talvez com o intuito de facilitar a aprovação do Orçamento, o Ministro da Economia disse que o peso específico do sector petrolífero estava a diminuir. Para os juristas bancários (para quem os números poderão querer dizer muito pouco), o Governador do BNA avançou uma percentagem que coloca a nossa e economia, em termos estruturais, praticamente no mesmo patamar em que estávamos antes. Ou será que já estamos diante do velho ditado, que diz: “Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo…”?
JUSTUNHO SOY ISMAEL EL,PROFESOR E ECONOMÍA DE CUBA...QUISIERA CONTACTARTE ..DESE HACE 20 AÑOS VIVO EN VENEZUELA..SALUDOS ISMAEL
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