1. O atentado de 15 de Abril, durante a Maratona de Boston, nos EUA, posso dizer que foi um acto de enorme cobardia, mesmo que o número de mortos tenha sido reduzido – quando comparado, por exemplo, com os cerca de três mil mortos que sucumbiram na queda das Torres Gémeas do World Trade Center de Nova Iorque, no despenhamento do Boeing 474 próximo de Shanksville, na Pensilvânia, e no ataque ao edifício do Pentágono (a sede do Departamento de Defesa dos EUA), no Condado de Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington.
2. A repulsa que ainda sinto pelo atentado de Boston é estimulada pelo facto de não me ser fácil achar qualquer explicação que não seja uma vontade doentia de causar dor a outrem, a quem apenas estava ali para se divertir, atletas e espectadores. Trata-se de um acto bárbaro, um dos mais hediondos que já conheci. Escolher a prática desportiva para matar, é de loucos.
3. Recuando no tempo, vem-me á mente o ataque a atletas israelitas em Munique, durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972, em que pereceram 11 integrantes da caravana desportiva de Israel, e 6 outros indivíduos, sendo um deles 1 polícia alemã e 5 dos 8 atacantes.
4. Quer o atentado de Boston, quer o atentado terrorista de Munique visaram, directa ou indirectamente, o desporto, e o desporto deveria, por definição, ficar fora desse tipo de práticas de morte, pois o desporto para além de ser saudável, visa também unir as pessoas. O desporto coloca-se para além das diferenças, inatas ou adquiridas, ultrapassando as raças, locais de nascimento, convicções políticas ou ideológicas, mesmo até a própria religião. O desporto deveria ser visto por todos como o espaço da união na diferença.
5. O ataque aos atletas de Israel em Munique teve uma clara motivação política. O grupo sequestrador dos atletas de Israel pretendia vingar-se da morte de 3 elementos de um outro grupo terrorista que, dias antes, havia desviado um avião da Lufthansa e fora morto. Sabe-se hoje que o grupo terrorista que atentou contra os atletas israelitas fora treinado em território líbio, já sob o governo do Coronel Muhamar Kadhafi.
6. O atentado de Munique visou civis, matou atletas. O atentado de Boston também visou civis, mas de um modo indistinto, inclusive, matou apenas que estava ali como público. O atentado de Munique matou gente de uma única nacionalidade (com excepção da mulher política): israelitas. O de Boston não teve em conta a nacionalidade, o seu alvo era quem ali estivesse, ou na pista, ou na assistência. A única semelhança entre eles é que atacaram uma área de prática desportiva. No resto, não são, pois, comparáveis.
7. Em 1985 um comando palestiniano, dirigido por um líder revolucionário de nome Abu Abbas, levou a cabo um ataque contra um navio de cruzeiro que navegava em águas egípcias, o “Achille Lauro”, exigindo de Israel a libertação de 52 prisioneiros palestinianos. Dessa acção, resultou a morte de um judeu americano, de nome Klinghoffer, que se locomovia em cadeira de rodas. Viajava acompanhado pela esposa em comemoração à data do seu casamento. Foi morto e atirado ao mar. Tal facto horrível chocou o mundo. Tinha motivações políticas, mas isso não é bastante para desculpabilizar os seus autores. A política não pode ser vista como o campo do vale tudo… Tem que haver limites, senão, o mundo transforma-se numa autêntica selva…
8. No dia 11 de Março de 2004, explodiram dez bombas, quase em simultâneo, em 4 comboios numa estação ferroviária de Madrid, com um saldo negativo de 191 mortos e mais de 1.700 feridos. A autoria foi atribuída a uma célula terrorista islâmica, supostamente ligada à rede Al-Qaeda. Os membros da referida célula terrorista suicidaram-se, fazendo explodir o apartamento onde estavam refugiados, na localidade de Laganés.
9. No dia 7 de Julho de 2005, estoiraram, em Londres, 4 bombas no seu sistema de transporte público, em plena hora de ponta, alvejando 3 composições do Metro e um autocarro de 2 andares do “London Buses”. Apuraram-se 52 mortos e cerca de 700 feridos.
10. O ataque de 11 de Março em Madrid e o de 7 de Julho em Londres são, claramente, uma reacção islâmica ao sucedido no Afeganistão e no Iraque. Mas, nem por isso se deve deixar de os classificar como actos selvagens. Na minha perspectiva, não devem orgulhar que os pratica e até mesmo quem os aplaude. Aos olhos da humanidade, diminui os seus autores e os seus apoiantes. Muito menos, glorifica uma causa.
11. O Reino Unido já conhecera antes, situações igualmente demasiado dramáticas como, por exemplo, o atentado de Lockerbie, em 1988, num avião Boeing 747 da Pan Am, que se saldou em 270 mortes, que haviam partido do aeroporto de Heathrow, em Londres, com destino a Nova Iorque. A responsabilidade deste acto foi atribuída ao regime líbio do Coronel Kadhafi que, ao aceitar pagar uma indemnização de muitos milhões de dólares às famílias das vítimas, na prática assumiu a sua quota de responsabilidade no acto. Apurou-se ainda que a autor material do atentado fora o agente dos serviços secretos líbios Abdel Al-Megrahi, posteriormente condenado a prisão perpétua.
12. Estes actos em que se sentiu a “mão invisível” do Coronel Kadhafi mostram o quanto ele desprezava a vida alheia, a vida dos que eram o objecto dos seus ódios. Daí que eu não tenha vertido uma única lágrima pelo seu desaparecimento. Embora não me tenha dado qualquer satisfação e prazer o modo como ele terminou. Lamentei publicamente, não a queda do regime, apenas o uso desmesurado da violência e o espectáculo de verdadeira barbárie que foi a sua execução.
13. O atentado de Boston trouxe, de novo, à tona o lado mau do ser humano. Seja quem for que o praticou mostrou que ainda há muito por fazer, até que o lado bom do Homem se sobreponha totalmente ao lado mau do Homem.
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