quarta-feira, 8 de julho de 2009

A PROPÓSITO DO REGRESSO DA TAAG AO ESPAÇO EUROPEU

1. O esperado levantamento, mesmo que parcial, da interdição colocada à TAAG de voar para o espaço comunitário europeu, será uma boa notícia. Será o culminar dos esforços de adaptação que a nossa companhia de bandeira teve que fazer, para se ajustar às normas internacionais de navegação aérea. Seguramente, teremos já uma TAAG mais eficaz, prestadora de um serviço mais ajustado às expectativas e também aos direitos de todos quantos procuram os seus serviços. Seremos, pois, melhor servidos – e não tenho dúvidas – sentir-nos-emos mais seguros no ar, também mais orgulhosos, sempre que estivermos dentro dos aviões que ostentam nas suas paredes exteriores a palanca negra gigante, um antílope infelizmente em vias de extinção.

2. Terminou, finalmente, o período em que tínhamos a percepção de estar a ser tratados de um modo impróprio, mais parecido com os préstimos do mercado informal. Muitas vezes, parecia-me estar a viajar de candongueiro, tais eram as falhas, os improvisos, e também as desconsiderações.

3. Ficou demonstrado que, quer a nossa companhia aérea, a TAAG, quer o INAVIC – a instituição nacional que regula a actividade aérea angolana – não estavam com razão quando alinharam num quase coro nacional que contestava, com veemência, a colocação da TAAG na “lista negra” das companhias interditas pela União Europeia. Realmente, havia inconformidades a superar – o que ficou provado. Querendo reganhar credibilidade, tivemos que as ultrapassar, para sermos respeitados pelas instituições de supervisão aérea internacional. Que nos sirva, pois, de exemplo. Que percamos, em definitivo, o espírito que nos foi sendo incutido de que somos os melhores, “especiais”… só que não compreendidos pelos outros. Por vezes, até invejados…

4. Voltar a voar no espaço aéreo europeu ajudará também a rentabilizar os recursos financeiros e materiais que foram desenvolvidos nos últimos anos. A solução encontrada de buscar outras rotas alternativas, menos exigentes, só pode ter sido um expediente passageiro. A via correcta é, seguramente, estarmos em condições de voar para qualquer sítio, por mais rigoroso que ele seja. No desporto, quando se quer ser competitivo, deve-se escolher os melhores jogadores, os melhores treinadores – jogar também nos campeonatos mais disputados. É uma regra que se ajusta igualmente à economia.

5. Mesmo assim, a actividade de transporte aéreo está sempre envolvida em incertezas. Por vezes até, ela mergulha em situações dramáticas. Não é por acaso que, volta e meia, somos surpreendidos com notícias de desastres aéreos que nos eriçam os pêlos…

6. Todos os anos contabilizam-se inúmeros acidentes, quase todos com consequências aterradoras. Por vezes, são aviões de grande porte, transportando centenas de pessoas, que depois desaparecem dos radares; outras vezes, são pequenas aeronaves que se despenham. Os relatos sobre os ocupantes dessas aeronaves aumentam o drama: os números começam a ganhar contornos humanos, passam a ter nomes, idade, profissão, relevância social, impacto mediático. Morrem executivos, cientistas, actores, desportistas. A maioria, porém, são cidadãos comuns que só merecem a atenção da comunicação social porque tiveram o azar de estar no sítio errado nesse momento azarado…

7. A título de exemplo, vale a pena recordar alguns dos acidentes aéreos registados neste ano de 2009 e que nos mostram a dimensão dos dramas: i) Em Fevereiro, em Buffalo, no estado de Nova Iorque, caiu sobre uma residência um avião do tipo Bombardier, de fabrico canadiano, tendo perecido 49 pessoas – pertencia à Colgan Air; ii) Em 23 de Março, um mono motor de marca Pilatos PC – 12, despenhou-se em Montana, também nos Estados Unidos, vitimando 18 pessoas, sobretudo, crianças em excursão; iii) Em 19 de Maio, um avião militar de marca Hércules C – 130 matou 100 pessoas, depois de se despenhar sobre um arrozal, na Ilha de Java, Indonésia; v) Em 1 de Junho, dá-se o mais mediático e emocionante de todos os desastres aéreos creditados ao ano de 2009: o voo 447 da Air France, um Airbus saído do Recife, Brasil, não chega a Paris, o seu destino final – desaparece dos ares com 228 pessoas a bordo, sobre as águas do arquipélago de Fernando Noronha, três horas após ter descolado; vi) No dia 30, também de Junho, um Airbus da companhia Yemenia Airlines tomba no Oceano Índico, no arquipélago das Comores, com 153 passageiros a bordo – salva-se apenas uma rapariga de 14 anos de idade, de nome Bakari Bahia.

8. A 22 de Junho, um Airbus A-330, da companhia australiana Qantas, quase se despenhou no mar, depois de uma enorme turbulência que lançou o pânico entre os seus ocupantes. Três dias antes, a 19 de Junho, quando sobrevoava o Golfo da Guiné, um voo da TAP teve uma situação idêntica a esta que aconteceu perto da Austrália. Eu estava nesse voo que poderia ter terminado no mar. Eu poderia, então, ficar transformado num número. Ou seja: seria um entre os mais de 100 desaparecidos nas águas do Oceano Atlântico… Ou, talvez não: poderia ter direito a nome, rosto. Creio que poderia merecer algumas tímidas referências de pesar, por parte daqueles que não simpatizam com a minha forma de estar na vida – aqueles para quem eu sou incómodo, ou mesmo inconveniente…

9. Não há um denominador comum nestes desastres aéreos. São companhias diferentes; uns caem sobre o mar, outros sobre a terra; uns são de grande dimensão, outros menores; de fabricantes europeus, americanos, etc. De facto, entre os acidentes ou quase acidentes, os Airbus são os mais reincidentes, o que tem levantado a suspeição de que terão, possivelmente, algum defeito. Mas, ainda estamos ao nível da pura especulação…

10. Existem também outras hipóteses explicativas para o acidente do voo 447 da Air France que reportei: “Ventos derivados de diferentes direcções que podem ter estraçalhado o avião”. Houve também quem tenha colocado a possibilidade de uma outra causa: “Como não há registo de chamadas SOS, significa que tudo sucedeu muito rapidamente, não dando hipótese de a tripulação ter reagido. Foi rápido e brutal. Portanto, ou bomba, ou turbulência muito forte que danificou o avião, colocando-o em queda livre. Ou mesmo uma trovoada com queda de um raio sobre o tanque de combustível…”. Hoje consolida-se cada vez mais a ideia de que não houve bomba.

11. Agora, no meio de tantos desastres e dramas, aqui vai uma notícia interessante: Cientistas da Universidade de Illinois, Estados Unidos, descobriram um material sintético que muda de cor quando está prestes a deformar-se ou a cair. Poderá servir de alerta, em caso de queda de aviões ou pontes. Os cientistas incorporaram moléculas mecanicamente sensíveis, chamadas “mecanóforos”, num polímero, mediante pressão ou tracção forte, desencadeando uma reacção química, tornando-se vermelha ou roxa. A ser verdade, poderemos estar, pela primeira vez, perante uma capacidade real de previsão que permitirá evitar os dramas que, volta e meia, enchem as páginas da comunicação social, e que nos comovem ao máximo!

1 comentário:

  1. Professor, muito bom artigo! Impecável, diria. Muito simples e claro. É pertinente. Gostei imenso quando fez referencia aos comentários "muito irresponsáveis" de dirigentes angolanos a quando da interdição imposta à TAAG, "é concorrencia desleal", diziam uns. "é porque compramos BOEINGs em detrimento dos AIR BUS". Muitos pensaram que o problema seria resolvido por via da politica/influencia etc.
    O parágrafo 7 também está muito bom! É sempre bom ter estes dados em mente.

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