A POLÍTICA COMO COISA SÉRIA
- Numa única semana, a
nossa sociedade foi confrontada com a notícia de, pelo menos, três crimes
hediondos: o assassinato, por desconhecidos, de 3 polícias que se
encontravam em serviço no município de Cacuaco, mais concretamente no
Bairro do Paraíso; o assassinato, por suspeitos mas perfeitamente
identificáveis, de 2 militantes da UNITA com responsabilidades políticas municipais,
também no Cacuaco e, por coincidência, também no Bairro do Paraíso; e o
sequestro, seguido de morte, de uma bancária, de nome Bárbara Sá Nogueira,
por ordens de uma sua “amiga”, também já a contas com a justiça. Infelizmente,
factos como estes começam a tornar-se lugares comuns entre nós, a excepção,
talvez, do assassinato dos polícias.
- A morte dos polícias
em pleno local de trabalho – segundo se disse, estavam na esquadra móvel onde
desenvolviam acções de prevenção e de repressão aos actos marginais –
chocou a opinião pública, dado que representa um atentado contra a própria
autoridade do estado, personificada nos agentes policiais. Somente quem
prefere viver à margem das leis e em contravenção à ordem pública não terá
ficado chocado com o acto criminoso ocorrido contra a polícia do município
de Cacuaco.
- Eu, pessoalmente,
senti um verdadeiro arrepio quando tomei conhecimento do facto e, de
imediato, passaram-me pela memória relatos de actos que, com frequência
ocorrem, por exemplo, nas principais cidades brasileiras. Nestas cidades, bandos
organizados e munidos de material bélico sofisticado atacam esquadras
policiais, emboscam polícias à civil, colocam em verdadeiro estado de
alerta as cidades onde se realizarão, dentro de breve tempo, eventos
desportivos de carácter internacional. Fica-se, pois, com a impressão de
que os bandidos se procuram afirmar como alternativa à autoridade pública.
- As autoridades
brasileiras desencadearam uma acção concertada de desmantelamento das
principais redes de tráfico de drogas que dominam vários bairros do Rio de
Janeiro e de São Paulo, onde os gangsters de há muito vinham impondo a sua
autoridade. Mas, os bandidos que não foram presos mudaram de táctica,
dispersando-se por vários pontos das cidades, obrigando, assim, a polícia
a um redobrado esforço de detecção e de combate.
- É evidente que o
tráfico de drogas não parou, simplesmente se descentralizou – talvez com
custos financeiros ainda mais elevados para os consumidores. Quando os
vendedores enfrentam mais dificuldades para realizarem o seu comércio,
optam por encarecer o produto, como é lógico.
- O que ocorreu em
Cacuaco com os polícias é, até agora, visto como uma represália praticada
por gangs vinculados a acções criminosas. Tudo leva a crer que não terá
havido qualquer “mão política” por detrás. Mas, segundo também se diz, a
morte dos 2 responsáveis municipais da UNITA terá sido realizada como
reacção ao assassinato dos 3 polícias, e aponta-se o dedo a agentes da polícia
que, pura e simplesmente, terão decidido eliminar tais responsáveis
políticos, dando conotação política a um acto que parece ser de puro
banditismo.
- Face ao silêncio das
autoridades, que não repudiaram publicamente o acto de eliminação física
dos responsáveis municipais das UNITA, os cidadãos são agora livres de
elaborar quaisquer conjecturas, até mesmo as mais inconvenientes e
rocambolescas. Quando a informação verdadeira e fidedigna não corre,
adianta-se o boato e a especulação.
- Pareceu-me que algumas
autoridades terão optado pelo contra-ataque, dando a ideia de que a UNITA
quereria, com alguma dose de leviandade, retirar dividendos políticos da
morte dos seus militantes. É evidente que a UNITA tem toda a legitimidade
para exigir explicações e a punição dos responsáveis. Ninguém tem o
direito de exigir deles o silêncio, num caso tão doloroso como o que
ocorreu. Forçá-los ao silêncio é cínico e em nada ajuda ao apuramento da
verdade.
- A atitude pública das
autoridades e o seu empenho no deslindar dos casos das mortes ocorridas em
Cacuaco – quer dos 3 polícias, quer dos 2 militantes da UNITA – serviria
de elemento fundamental para mostrar sinceridade e imparcialidade, um
verdadeiro engajamento na defesa da ordem pública, independentemente da
cor político-partidária das vítimas.
- Tem-se feito repetidamente o discurso do
perigo de um regresso à guerra. Mas qual guerra? Será que há hoje condições
físicas, materiais e psicológicas para o desencadear de uma nova guerra?
Ou será que na cabeça de alguns voltou a pairar a ideia da perpetuação de
um massacre devidamente orquestrado, e com isso retirar do caminho todo o
tipo de oposição?
- Eu penso que, num
caso e no outro, no assassinato dos 3 polícias e no fuzilamento puro e
simples dos 2 militantes da UNITA, o estado tem que agir como uma pessoa
de bem. Deve ficar tudo bem esclarecido, com os culpados presos e punidos.
Para o bem de todos nós, e para que o país não entre, nunca mais, numa
espiral de violência, para depois se puder justificar todo o tipo de
massacres. É tempo de se fazer da política uma prática séria!
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