quarta-feira, 12 de junho de 2013

A POLÍTICA COMO COISA SÉRIA


  1. Numa única semana, a nossa sociedade foi confrontada com a notícia de, pelo menos, três crimes hediondos: o assassinato, por desconhecidos, de 3 polícias que se encontravam em serviço no município de Cacuaco, mais concretamente no Bairro do Paraíso; o assassinato, por suspeitos mas perfeitamente identificáveis, de 2 militantes da UNITA com responsabilidades políticas municipais, também no Cacuaco e, por coincidência, também no Bairro do Paraíso; e o sequestro, seguido de morte, de uma bancária, de nome Bárbara Sá Nogueira, por ordens de uma sua “amiga”, também já a contas com a justiça. Infelizmente, factos como estes começam a tornar-se lugares comuns entre nós, a excepção, talvez, do assassinato dos polícias.


  1. A morte dos polícias em pleno local de trabalho – segundo se disse, estavam na esquadra móvel onde desenvolviam acções de prevenção e de repressão aos actos marginais – chocou a opinião pública, dado que representa um atentado contra a própria autoridade do estado, personificada nos agentes policiais. Somente quem prefere viver à margem das leis e em contravenção à ordem pública não terá ficado chocado com o acto criminoso ocorrido contra a polícia do município de Cacuaco.


  1. Eu, pessoalmente, senti um verdadeiro arrepio quando tomei conhecimento do facto e, de imediato, passaram-me pela memória relatos de actos que, com frequência ocorrem, por exemplo, nas principais cidades brasileiras. Nestas cidades, bandos organizados e munidos de material bélico sofisticado atacam esquadras policiais, emboscam polícias à civil, colocam em verdadeiro estado de alerta as cidades onde se realizarão, dentro de breve tempo, eventos desportivos de carácter internacional. Fica-se, pois, com a impressão de que os bandidos se procuram afirmar como alternativa à autoridade pública.


  1. As autoridades brasileiras desencadearam uma acção concertada de desmantelamento das principais redes de tráfico de drogas que dominam vários bairros do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde os gangsters de há muito vinham impondo a sua autoridade. Mas, os bandidos que não foram presos mudaram de táctica, dispersando-se por vários pontos das cidades, obrigando, assim, a polícia a um redobrado esforço de detecção e de combate.

 
  1. É evidente que o tráfico de drogas não parou, simplesmente se descentralizou – talvez com custos financeiros ainda mais elevados para os consumidores. Quando os vendedores enfrentam mais dificuldades para realizarem o seu comércio, optam por encarecer o produto, como é lógico.

 
  1. O que ocorreu em Cacuaco com os polícias é, até agora, visto como uma represália praticada por gangs vinculados a acções criminosas. Tudo leva a crer que não terá havido qualquer “mão política” por detrás. Mas, segundo também se diz, a morte dos 2 responsáveis municipais da UNITA terá sido realizada como reacção ao assassinato dos 3 polícias, e aponta-se o dedo a agentes da polícia que, pura e simplesmente, terão decidido eliminar tais responsáveis políticos, dando conotação política a um acto que parece ser de puro banditismo.


  1. Face ao silêncio das autoridades, que não repudiaram publicamente o acto de eliminação física dos responsáveis municipais das UNITA, os cidadãos são agora livres de elaborar quaisquer conjecturas, até mesmo as mais inconvenientes e rocambolescas. Quando a informação verdadeira e fidedigna não corre, adianta-se o boato e a especulação.


  1. Pareceu-me que algumas autoridades terão optado pelo contra-ataque, dando a ideia de que a UNITA quereria, com alguma dose de leviandade, retirar dividendos políticos da morte dos seus militantes. É evidente que a UNITA tem toda a legitimidade para exigir explicações e a punição dos responsáveis. Ninguém tem o direito de exigir deles o silêncio, num caso tão doloroso como o que ocorreu. Forçá-los ao silêncio é cínico e em nada ajuda ao apuramento da verdade.


  1. A atitude pública das autoridades e o seu empenho no deslindar dos casos das mortes ocorridas em Cacuaco – quer dos 3 polícias, quer dos 2 militantes da UNITA – serviria de elemento fundamental para mostrar sinceridade e imparcialidade, um verdadeiro engajamento na defesa da ordem pública, independentemente da cor político-partidária das vítimas.


  1.  Tem-se feito repetidamente o discurso do perigo de um regresso à guerra. Mas qual guerra? Será que há hoje condições físicas, materiais e psicológicas para o desencadear de uma nova guerra? Ou será que na cabeça de alguns voltou a pairar a ideia da perpetuação de um massacre devidamente orquestrado, e com isso retirar do caminho todo o tipo de oposição?


  1. Eu penso que, num caso e no outro, no assassinato dos 3 polícias e no fuzilamento puro e simples dos 2 militantes da UNITA, o estado tem que agir como uma pessoa de bem. Deve ficar tudo bem esclarecido, com os culpados presos e punidos. Para o bem de todos nós, e para que o país não entre, nunca mais, numa espiral de violência, para depois se puder justificar todo o tipo de massacres. É tempo de se fazer da política uma prática séria!

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