1. Num recente pronunciamento, o Secretário-geral da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), Ángel Gurría, afirmou
que o principal objectivo para o Fórum Global para o Desenvolvimento seria o
estabelecimento de novos Objectivos para o Milénio, após 2015. Com isso, quis
certamente dizer que, face à nova realidade mundial, os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio propostos no ano 2000, no quadro das Nações Unidas,
passarão dentro de pouco tempo a fazer parte do passado.
2. Para um melhor entendimento, vale a pena recuperar a
listagem dos oito Objectivos definidos até ao ano 2015: 1. Erradicar a pobreza
extrema e a fome; 2. Universalizar o ensino básico; 3. Promover a igualdade do
género e a autonomia das mulheres; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5.
Melhorar a saúde materna; 6. Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças;
7. Garantir a sustentabilidade do ambiente; 8. Estabelecer uma parceria mundial
para o desenvolvimento.
3. Olhando atentamente para, é fácil verificar que o seu
alvo eram essencialmente os países subdesenvolvidos e os chamados países em
vias de desenvolvimento. Muitos destes países não os terão alcançados, ou
porque se mostraram à partida demasiado difíceis de alcançar em tão pouco
tempo (15 anos), ou porque os países viveram perturbações políticas e sociais,
como guerras e sublevações, que os contrariaram, ou mesmo porque as suas
autoridades políticas não foram capazes de delinear as políticas mais adequadas.
Creio ainda que a Crise Global que se desencadeou no mundo em 2008 terá tido,
igualmente, a sua quota-parte de responsabilidade. Porém, é ponto assente que há
quem se tenha aproximado ou mesmo atingido tais objectivos.
4. São cada vez mais as organizações internacionais
que vão reconhecendo os esforços empreendidos em alguns países para o alcance
desses objectivos, sobretudo, os chamados países de desenvolvimento médio, como
é o caso do Brasil e do México. Em alguns países baixo desenvolvimento também
se assinala um notável esforço para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento
do Milénio, um dos quais o Quénia e outro, Cabo Verde. Nestes países, por
exemplo, o saneamento básico melhorou muito e reduziu bastante o nível de
incidência de algumas doenças. Constituem-se, pois, em bons exemplos a serem
seguidos pelos outros. É evidente que cada país tem as suas próprias contingências
e características, daí que seja importante contextualizar cada um deles.
5. Faço também minhas as palavras do Secretário-geral da
OCDE, Ángel Gurría, quando ele disse que os próximos Objectivos deverão ser
globais, dado que, no mundo actual, se vão esbatendo muito as divisões entre
norte e sul. Hoje, os motores da economia mundial vão sendo já as chamadas
economias emergentes, com especial destaque para a China e o Brasil. De certa
forma, os chamados Brics são uma das molas motoras da economia mundial e o seu
peso adivinha-se ainda mais crescente no futuro. Ao México, um dos dois países
latino-americanos integrantes da OCDE, juntamente com o Chile, está também
reservado um papel importante na economia do futuro. Mas haverá anda outros
países, como a Indonésia e até mesmo a Argentina, todos eles com um enorme
potencial de crescimento.
6. Está, praticamente, a terminar ou, pelo menos, a
diminuir sensivelmente a hegemonia económica do antigo Centro, onde
se destacavam os países ocidentais e o Japão. Contudo, a globalização e
políticas económicas acertadas tiveram o condão de impulsionar outras
economias, dando-lhes fôlego.
7. Face à nova conjuntura mundial que se caracteriza por
uma corrida desenfreada aos recursos para potenciar os ditos emergentes, é
desejável que os Objectivos do Futuro, os que forem definidos para o pós 2015, não
só tenham em conta o desenvolvimento económico como, também, a sustentabilidade
do ambiente e, em especial, a preservação dos recursos. Os desafios
do futuro convocam-nos a todos e não apenas os mais pobres, daí que se tornem
globais.
- Angola
vai já apresentando resultados positivos em alguns domínios. Noutros nem
tanto. Todavia, vai saindo muita informação que me parece um pouco forçada
– feita apenas para “acerto da estatística”. Para nos inserirmos no
conjunto dos países cumpridores dos Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio. Não me parece que seja uma atitude correcta, porque a única forma
de superarmos as nossas falhas é, primeiro que tudo, reconhecê-las.
Sem comentários:
Enviar um comentário