COMPORTAMENTOS ATÍPICOS
- Na segunda
metade da campanha para as eleições gerais de 31 de Agosto, já há alguma matéria
para analisar. Hoje, debruçar-me-ei sobre duas que eu acho interessantes.
Para o tempo que nos resta até ao fim, sobrarão, seguramente, outras.
- Baseadas na Constituição
aprovada em 2010, estas eleições gerais são, realmente, muito atípicas,
uma vez que permitem a escolha do Presidente da República – e, por
extensão, do Vice-presidente – juntamente com os deputados ao Parlamento. Um
tal esquema, pouco usual de eleição, permitiu a opção por um modelo de
tempo de antena que subalterniza a figura dos futuros deputados, a quem
não se dá espaço algum, ou quase nenhum.
- Por não
estar dissociada a eleição de uns e de outros – do Presidente e dos
deputados – os tempos de antena são dominados pelas imagens do candidato a
Presidente, ficando os candidatos a futuros deputados quase sem trabalho:
vão apanhando boleia na “viatura” do Presidente. Isto sucede em todas as
candidaturas.
- Todos os
partidos políticos nem se dão ao incómodo de expor ao público a fotografia
do seu candidato a Vice-presidente. Também não se lhes vê o rosto nos
tempos de antena. Eles e os deputados. Dá até vontade de dizer que “lutam
na clandestinidade”.
- Quero então
dizer que, nestes termos, quem figura em segundo lugar numa eventual lista
vencedora será, no final de contas, o maior “maguelador” da corrida
eleitoral, uma vez que até tem a possibilidade de vir a ser Presidente da
República sem que para isso se tenha batido verdadeiramente. Mas, o quê
que isso significa? Significa tão-somente que poderemos ter “em mãos” alguém
que não foi suficientemente avaliado. Recordo que, para o imaginário
público é, sobretudo, o perfil do candidato a Presidente que está a ser
questionado. A figura do Vice, por força da quase exclusiva visibilidade
do primeiro, está ser relegada para segundo plano.
- Em eleições
presidenciais típicas, a dupla Presidente/Vice-presidente é demasiado
importante, o que fica bem espelhado nas eleições norte-americanas. Por
exemplo, o ex-candidato presidencial pelo Partido Republicano, John Mc
Cain, uma figura fisicamente debilitada face à pujança do candidato do
Partido Democrático – Barack Obama – optou por cobrir o seu aparente défice
com a escolha de uma mulher para o secundar, como candidata a Vice. E o
candidato presidencial democrata, o relativamente jovem Barack Obama,
escolheu um senador de idade mais madura e de larga experiência política
para o secundar como candidato a Vice, dando, assim, uma maior confiança
ao eleitorado.
- A estratégia
republicana, baseada no género – ou seja, um homem e uma mulher, no
pressuposto de chamar para si a adesão dos dois lados do ser humano –
falhou, entre outras razões, porque a mulher escolhida para secundar o Presidente,
e substitui-lo em caso de necessidade, mostrou-se bastante desastrada,
tendo feito intervenções públicas que lançaram sérias dúvidas sobre a sua
real capacidade para dirigir o destino do país.
- Por sua vez,
a estratégia democrata de compensar a juventude do candidato a Presidente
com a experiência do candidato a Vice mostrou ser mais consistente,
relegando para plano secundário a ideia do equilíbrio no género.
- Quer, então,
dizer que ser candidato a Vice-presidente não é algo de somenos
importância, sobretudo se o Vice tiver constitucionalmente possibilidade
de se tornar Presidente, sem que se realize imediatamente nova eleição. Foi
o que sucedeu com a substituição do Presidente John Kennedy por Lindon
Jonhson, por morte do primeiro. Viu-se também agora no Ghana e no Malawi,
onde os Vice substituíram os Presidentes, por morte destes.
- Na
realidade, se houve quem tivesse alimentado a ilusão de estarmos num
processo eleitoral verdadeiramente típico, enganou-se. Tem agora
suficientes razões para desfazer tal equívoco. E não precisará de rebuscar
muito na memória, dado que, diariamente, saltam-nos à vista comportamentos
e atitudes no mínimo ilustrativos do modo desequilibrado como são tratados
publicamente os diversos intervenientes no processo eleitoral. Estamos,
sim, perante mais uma “atipicidade” do nosso processo político eleitoral.
- Refiro-me
concretamente à gritante parcialidade como um órgão público da comunicação
social utiliza as suas páginas para zurzir sobre as costas dos principais
contendores que estão na oposição, e o modo como “leva ao colo” o partido
da situação. Em relação a partido da situação, tal órgão de comunicação
social nunca poupa espaço para se desfazer em encómios. Inclusive, trata matérias
menores (e sem qualquer relevância especial) como se fossem factos
marcantes na história do nosso povo.
- Na análise
dos tempos de antena e dos actos públicos de determinados partidos (e
coligações) na oposição, ele chega a cair no insulto reles, no destrato, deturpando,
por vezes, as ideias que são apresentadas. Pelo modo raivoso como vergasta
algumas oposições, fazendo-me lembrar o tempo colonial, quando os
administradores de posto instruíam os seus cipaios para surrarem – até
fazer sangue – os “rebeldes” que se negassem a pagar o “imposto indígena”
ou quem desobedecesse às suas iníquas ordens coloniais.
- Não sou dos que, eventualmente, pensam
que se deva deixar passar em branco os erros cometidos por responsáveis de
partidos da oposição, ou que se deva fazer do partido no poder o “saco”
onde todos os boxeiros devem exercitar os seus bíceps, criando a ideia de
que ele é fonte única de todos os nossos males, o culpado de todas as
nossas desgraças. Tenho, porém, a convicção de que, num quadro como o
actual (em que se repete até à exaustão a necessidade de se exercer a
escolha de um modo consciente), compete principalmente aos órgãos públicos
de comunicação social guardarem suficiente serenidade, funcionando como
espaços, de facto, ao serviço da comunidade e não como órgãos virtualmente
criados e pagos por um qualquer partido político.
- Quando aos
órgãos de comunicação social privados, o máximo que se lhes pode pedir é
que façam o possível para preservarem uma conduta civilizada. Que sejam
eles também contribuintes para a criação e/ou a manutenção da paz social.
Não se lhes pode exigir total imparcialidade, já porque são propriedade
privada, obedecendo, no essencial, ao interesse dos seus proprietários. Que
pugnem por um comportamento de razoável equilíbrio, pois o interesse
pessoal de um qualquer empresário (ou grupo de empresários) nunca pode ser
superior ao interesse do conjunto da nação.
Boa análise professor, mas pelo que tenho visto dos tempos de antena da UNITA, e tenho visto quase todos, aparecem sempre os seus candidatos a deputado. Inclusive, um dos seus mais recentes tempos de antena, que lidava com a juventude, foi apresentado pelo seu candidato a vice presidente, o Sr. Ernesto Mulato.
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