“QUANDO A AMÉRICA ESPIRRA O MUNDO APANHA GRIPE”
- Estamos na
eminência de ver confirmado o aforismo segundo o qual “quando a América espirra o mundo apanha
gripe”. O seu exemplo mais recente foi o de finais de 2007 e início de
2008, altura em que as principais bolsas de valores em todo o mundo se
ressentiram da crise do sector imobiliário norte-americano que contaminou
os principais centros financeiros mundiais, desde Nova York a Londres, passando
por Paris, Frankfurt, Tóquio, Hong Kong, etc. De imediato, e para fazerem
face à crise que se estendia, as autoridades estadunidenses e os
principais bancos centrais, um pouco por todo o mundo, impuseram medidas
que conseguiram limitar os impactos da crise. Porém, os principais índices
bolsistas assinalaram perdas substanciais, afectando diversos sectores económicos.
- A economia
mundial passou, assim, a viver uma das suas maiores odisseias, tanto do
lado da procura como do lado da oferta, ressentindo-se, por exemplo, nos
preços da energia (com o petróleo a baixar para patamares alarmantes),
assim como nos preços dos bens alimentares, que atingiram valores
proibitivos.
- As notícias
que agora fazem manchete na mídia internacional reflectem o receio de um
aumento nos preços de determinados produtos ao nível mundial, fruto da
seca que varre diversos estados do Centro-Oeste dos Estados Unidos da
América, e que já afecta cerca de 60% do território.
- Os produtos
agrícolas que estão a ser mais atingidos pela estiagem norte-americana são
o milho, a soja e o trigo que, por reflexo, vão deixando também as suas
impressões digitais sobre as carnes e outros produtos. A persistir, a seca
que assola os EUA poderá tornar-se a maior da sua história. Os EUA são o
maior produtor mundial de grãos e responsável por 40% das “commodities”
negociadas nos mercados de futuros.
- Por enquanto,
ainda se fala numa descida dos preços da carne bovina no mercado interno
norte-americano, mas que resulta do facto de os criadores de bovinos se
estarem a desfazer dos seus rebanhos, por causa da subida do preço das
rações, muito dependentes do milho e da soja. Porém, já para o próximo ano,
com a redução da oferta de carne de bovino, assistir-se-á a uma subida dos
seus preços. Pelo contrário, será ainda neste ano de 2012 que subirá o
preço da carne de frango, de suínos, das gorduras e dos óleos.
- Fruto da
crescente globalização das economias, a situação agrícola nos EUA levou ao
agravamento, por exemplo, dos preços da soja nos mercados internacionais,
uma “commodity” negociada em várias bolsas, com especial destaque para a
Bolsa de Chicago.
- O impacto na
economia mundial de um aumento do preço do milho pode se fazer sentir num
conjunto muito vasto de produtos, de que serve como matéria-prima, tais
como produtos de mercearia, etanol, ração para o gado, tintas, penicilina
e outros medicamentos, pasta para os dentes, cosméticos, até mesmo na
produção de alumínio. Terá, assim, um impacto no nível geral de inflação, baixará
o poder de compra dos salários, dinamizará o movimento grevista, podendo
desencadear pressões sociais de valor incalculável.
- Fala-se já na
stocagem precipitada de grãos por parte de alguns países, com receio de
que uma eventual carência possa fazer despoletar tensões sociais escondidas.
- Com a seca
nos EUA, os preços de muitas outras “commodities” subirá, gerando ganhos
aparentes para alguns países. Paralelamente, assistir-se-á à volatilidade
desses mercados que serão objecto de fortes acções especulativas.
É mesmo caso para dizer que
embora a procissão ainda vá no adro, fica por demais evidente que este
“resfriado” dos EUA vai pela certa desencadear uma “epidemia de gripe” ao nível
global.
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