terça-feira, 23 de março de 2010

CORRUPÇÃO POLÍTICA EM ANGOLA

1. O cientista político norueguês, Inge Amundsen, atirou uma grande “pedrada para o charco”, ao declarar, em Maputo, durante uma “Conferência Internacional sobre Boa-Governação e Prevenção no Sector Petrolífero” que, entre nós, a corrupção política prejudica o aproveitamento equilibrado dos benefícios do petróleo. Para Inge Amundsen, a corrupção política é a mãe de todos os nossos males.

2. Mesmo que, por vezes, se possam assinalar alguns avanços na luta contra a corrupção e a má-governação, em determinadas circunstâncias, porém, tais conquistas são contrariadas por acentuados recuos, contabilizando-se o resultado final ou num saldo nulo, ou mesmo até num saldo negativo.

3. Este não é, seguramente, o discurso que as entidades oficiais angolanos esperavam ouvir, sobretudo, porque se tratou de uma conferência internacional com uma grande exposição mediática. Contudo, eu tenho a convicção de que a afirmação feita por Inge Amundsen coincide com a percepção de grande parte da nossa população sobre o assunto, mesmo que não o proclame em hasta pública.

4. Inge Amundsen manifestou ainda a crença de que a corrupção política só pode ser eliminada mediante o esforço conjugado dos diversos sectores da nossa sociedade, pelo que, no curto prazo, não haverá como lhe pôr termo.

5. A expressão “corrupção política” é usada sempre que existe o uso indevido do poder político e financeiro por parte de governantes, funcionários públicos e mesmo agentes privados, com o objectivo de transferir rendimento público ou privado de maneira criminosa para o proveito de indivíduos, ou em benefício de grupos de indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse comum. A corrupção política é, pois, uma forma clara de desrespeito das normas legalmente estabelecidas. Ela torna-se ainda mais grave, quando se supõe que tais indivíduos devem conhecer a lei e até mesmo fazê-la respeitar.

6. Não há que confundir os agentes da corrupção política com o vulgar criminoso, como, por exemplo, aquele que mata, aquele que rouba ou aquele que furta. Por norma, os agentes da corrupção política utilizam métodos mais subtis: utilizam as posições que detêm no xadrez político para realizarem actos ilegais lesivos à sociedade como um todo, actos esses que são denominados tráfico de influência, suborno, nepotismo, etc.

7. Há também quem procure identificar a corrupção política apenas com a recepção de dinheiro de empresários para o financiamento de campanhas políticas, ali onde tais recebimentos são proibidos por lei. Mas isso não é totalmente verdade, dado que a corrupção política pode igualmente, por exemplo, aparecer sob a forma de favores concedidos para o acesso privilegiado a bens ou serviços públicos, ou ainda sob a forma de sobrefacturação de obras e serviços públicos por parte de empresas privadas, em troca do pagamento de “comissões” ao governante ou ao funcionário público.

8. A corrupção política provoca distorções económicas no sector público, como quando se direccionam investimentos para áreas não prioritárias, prejudicando-se o desenvolvimento de outras áreas. Tudo porque o agente público apenas está interessado em receber a sua “comissão”.

9. Geralmente, são as grandes obras públicas que propiciam a recepção de chorudas “comissões” – por exemplo, a construção de pontes, edifícios públicos, estradas, etc. São também as grandes encomendas do Estado. Não é, pois, por um mero acaso, que as grandes obras públicas e as grandes encomendas do Estado vêem sistematicamente os seus preços a ser elevados. Não é também por um mero acaso que a qualidade de muitas dessas obras e desses produtos têm sido muito contestados entre nós.

10. A percepção pública sobre a corrupção política no nosso país é hoje já muito maior, o que é fruto do aumento do nível de qualificação da nossa população. Ao cidadão iletrado, ou pouco preparado academicamente, pode escapar a subtileza de alguns actos de corrupção política. Mas, quando se trata de segmentos da população mais preparados, os actos de corrupção política surgem aos seus olhos como por demais evidentes.

11. É também cada vez mais perceptível, entre nós, o resultado da corrupção política. Veja-se, por exemplo, a forma como, de um dia para o outro, alguns indivíduos (ou mesmo famílias) se tornaram endinheirados, sem que o possam justificar. Não precisamos de nos socorrer de qualquer “lupa política” – tudo isso se percebe à vista desarmada…

12. A corrupção política vicia as regras do mercado, por exemplo, quando se concedem vantagens indevidas a este ou àquele agente económico. Tem sido normal e corriqueiro entre nós a afectação directa de certas empreitadas a determinadas empresas que se suspeita pagarem “comissões” aos decisores, ou mesmo terem-nos como co-proprietários.

13. Os nossos políticos corruptos estão bem identificados, mesmo que se queiram acobertar sob vários disfarces. Os nossos políticos corruptos surgiram como cogumelos, no quadro de uma estratégia política gizada “em laboratório”. Os seus objectivos são claros: deter o poder económico, e eternizarem-se no poder político. Perspectivam ainda transferir tais poderes para os seus descendentes. Depois, o tempo encarregar-se-á de lhes lavar a imagem... Não só lavar a sua imagem, mas, igualmente, perfumá-los e desodorizá-los… Não é, pois, por acaso que hoje quase não se faz grande negócio em Angola que não resulte de uma “aliança estratégica” com esses novos “empreendedores”. Hoje, eles são fartamente procurados por capitalistas estrangeiros para as mais lucrativas parcerias. Sem tais parcerias, teriam mais dificuldade em penetrar neste mercado, e até nem receberiam encomendas. Com esses parceiros corruptos, todas as portas ficam escancaradas. Decisores políticos, que são ao mesmo tempo os “empreendedores económicos”, e seus descendentes, são “noivas apetecidas” por aqueles que demandam o nosso mercado. Quem não está nesta “short list” não tem valor de mercado…

14. Começa já a generalizar-se a ideia segundo a qual o nível de corrupção política que nos atravessa hoje transformou a que existiu no Zaire, no tempo de Mobutu, numa brincadeira de crianças... Isso entristece-me, já porque, desde a independência, fomo-nos habituando a considerar o ex-Zaíre como o símbolo de tudo o que era mau... Infelizmente, somos nós agora os apresentados no exterior como o exemplo a não seguir. Somos uma má referência internacional, quando se fala em desgovernação ou em ausência de transparência. Estamos a pagar uma pesada factura.

15. Há, pois que reter uma das afirmações de Inge Amundsen. Ele disse que só conseguiremos sair vitoriosos na luta contra a corrupção política, se houver um esforço concertado de todos os segmentos da nossa sociedade. Tenho, porém, receio, que já tenhamos perdido muito tempo… Receio ainda que a corrupção política se tenha já infiltrado nos poros da nossa sociedade. A ser assim, corre-se o risco de ela se tornar uma regra, e até mesmo uma cultura…

10 comentários:

  1. isso nao termina enquanto nao existir o real exercio da democracia..enquanto as pessoas nao tiverem acesso a educaçao e a comunição(a não alterada) tem que ser pessoas assim que falam (e possuem bagagem para tal), que tenhem que estar a prestar o seu contributo a sociedade Angolana e nao pessoas sem instruçao que só pensam no enriquecimento de seus bolsos.porque essa corrupçao que mais se ve em Angola é sem duvida o trafico de influencias por quem esta a frente da administraçao dos bens publicos(nao existe divulgaçao nem transparencia acerca das contas publicas)não parece existir um tribunal de contas ou ministerio publico porque a corrupçao e enriquecimento desmedido esta a vista de todos.

    ResponderEliminar
  2. Ja perdi a esperança de um dia ver Angola Livre. Desde 1981 ate a data presente, o espirito de governação é sempre o mesmo. o ciclo esta vicioso. o País tem dono, essa é a verdade.

    ResponderEliminar
  3. sobre a corrupçâo em angola hã muito que se falar pois o nosso pais tem tudo para os angolos virerem bem, mas nao ê o que acontence por falta de honestidade amor ao proximo,justiça, vivendo num pais como esse de muita ganancia, ilusâo...
    o que ê que se espera!

    ResponderEliminar
  4. Corrupção em Angola!?
    Nâooooooooo.
    Funcionário público só pede gasosa.
    Présidente só exige champanhe e caviar.

    ResponderEliminar
  5. o problema é que o povo naö ten a coragen de encarar o governo dizendo a verdade do que penssan sobre a sua má governacäö.medo de ser visitado á noite por militares mascarados,é o que faz com que a populacäö fique calada.um dia o povo vai perder este medo,pois a uniäö faz a revolucäö.nun pais onde os jornalistas saö mortos por falaren a verdade,tudo pode acontecer.o dia da verdade esta chegando,assim como aconteceu en mocanbique;pode tanben acontecer en angola.o pobre angolano encostado á porta de casa,vendo a chuva com maus olhos devido agua que escorre para dentro da sua barraca;coisa que naö acontecia antes das obras que o governo finge fazer nas ruas do musseque.o dinheiro distinado ao povo é usado en casamentos dos mais chegados ao mpla,e o joven angolano que desorientado rouba a pobre coitada da senhora que passa na rua,en vez de roubar os mangas do mpla cheios da massa.caro joven poupa os pobres como tu,vai cobrar contas legalmente ao governo,e se ele naö querer te atender por estares sozinho;enssentiva a malta que sofre contigo para manifestar contra os eleitos mal feitores.até quando é que vamos comer a puéira que os mangas fazen com os seus raf4???até quando é que ficaremos a reclamar nos cantos,en vez de gritar chéga????sómos boélos???é isto que eles julgan que sómos???juntos vamos mostrar o valor do nosso voto nas eleicöes de 2012.chega de movimento de libertacäö en angola,é hora do partido popular para a democracia angolana.naö é verdade angolanos????angolanos,naö deixen de lutar pelo direito que vos pertence!!!!!vida para todo o angolano,e naö apenas para o mpla e a sua malta.coragen camaradas!!!aqui fala um angolano que naö se deixa entimidar,á espera da uniaö do povo angolano na revolta contra a opresaö da verdade.abaixo currunba!!!obrigado pela atencäö,ajuden-me a publicar o livro que acabei de escrever!so naö o publiquei por falta de financas!!!!sen papas na lingua é o titulo do meu livro.patrocinadores ajuden-me a dizer o que pensso,para que o angolano ganhe coragen na luta contra a corrupcäö.0049,16092898674ou72alemanhä,angolano refugiádo desde 1991.contra a currunba da banda

    ResponderEliminar
  6. Isto é um problema que não devemos fugir ja nada é absoluto, se o imperio ronamo caiu o que é pr zedú e o mpla? é algo passageiro que mas tempo ou menos tempo vai dezaparecer por tudo mal que cauzaram a patria.o povo ja despertou é só questaõ de tempo.

    ResponderEliminar
  7. Este governo fantoche que esta no poder a quase meio século, pensam que as mentes dos angolanos continuam feichadas, eles estão a se esquecer que pouco a pouco a população vai se lebertando das trevas e algum dia vão sentir o peso da revolução deste mesmo povo. Eles tentarão implementar um sistma de ensino pobre em angola para tentar mutilar a mente do povo, mas este povo sofredor têm sido auto-didactas descobrindo todos os crimes do regime por si só!!! Estamos cansados de sofrer, e algum dia estes que se acham donos do país vão ver angola de patas para o ar. O grande problema da população angolana é que são maioritáriamente analfabetos e muitos continuam acreditando nas mentiras do regime, porque se não fosse assim! ja seriam depostos ali esta o trunfo do mpla, porque é muito fácil enganar um povo não instruido. Mas é preciso acreditar que um dia estas classes previlegiadas serão extintas.

    ResponderEliminar
  8. Factor corrupção é um mal social que vementemente deve ser combatido a ferro e fogo. Mas esse combate só será vitorioso, quando os organismos internacionais legítimos tomarem a peito e com devida transparência, impercialidade e objectividade. Porque esse flagelo social, afecta todo e todos no mundo, apesar de muitos acharem que são os beneficiários e imunes.

    ResponderEliminar
  9. Não há corrupção em Angola, há sim a disputa de interesses estrangeiros, os que comandam o mundo. Tudo o resto são vitimas de teias muito fortes. Vejam, a bem pouco tempo, Portugal, enquanto detinha alguma estabilidade económico-financeira, era dos mais critico das praticas governamentais em Angola. Hoje, morto de fome, tudo fazem, de modo muito sofisticado, para a partir de Angola, acudir a situação de um Portugal, ou seja tudo vale se o resultado for o dinheiro de Angola de que Portugal, hoje, muito precisa para matar a fome das suas gentes. Perante este quadro de conspiração contra Angola, pergunta-se: O que podem os nossos compatriotas que governam o país fazer? Todos nós temos ainda nas nossas memorias o destino de Kadhafi! um homem que juntou pequenos grupo étnicos e culturais e deles fez um estado forte. Enquanto os que comandam o mundo acharam necessário tê-lo lá, foram os abraços, os almoços, as recepçoes e os muitos metros de tapete vermelho mas, pois claro, quando se fartaram dele, sempre com o interesse do saque directo das riquezas da Líbia, lá foi o Kadhafi, ou melhor, lá foi a Líbia. Não defendo a corrupção todavia, tenho um olhar responsável e porque não histórico sobre o fenómeno. O mundo, precisa sim de uma nova ordem política e por arrasto tudo se vai compor. Ainda tenho fé que presenciarei esse dia.

    ResponderEliminar
  10. Não há corrupção, isso não dá papel. JCC

    ResponderEliminar