quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

OS MERCADOS DIFICILMENTE SE DEIXAM ILUDIR


1.  A redução das receitas provenientes da exportação do petróleo gerou uma extraordinária pressão sobre a nossa economia, obrigando mesmo a uma revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE), pouco mais de dois meses após ter sido aprovado na Assembleia Nacional, com o voto unânime da bancada do MPLA. Tratou-se, de facto, de uma aprovação precipitada pois, na altura, já era perfeitamente perceptível a trajectória descendente do preço do petróleo no mercado internacional, embora ainda não se pudesse acertar onde o mesmo estabilizaria.

 

2.  A responsabilidade pela quebra das receitas petrolíferas de modo algum pode ser atribuída a um qualquer dirigente político ou económico angolano. Assim como qualquer outra oscilação no preço, jamais seria assacada ao volume das nossas exportações, grande para a nossa economia interna, mas mediano se comparado com o dos grandes produtores e exportadores mundiais.

 

3.  A presente variação no preço do petróleo deve-se, sim, à conjuntura do mercado, onde se assinala o aumento dos níveis de produção interna dos EUA – que fez reduzir acentuadamente a sua dependência das importações –, conjugado com a redução da procura por parte da China - hoje o maior importador desse produto estratégico -, também à desaceleração de outras economias emergentes, assim como ao fraco desempenho económico das principais economias europeias. Tudo isso motivou o presente abalo económico em Angola e em outras economias fortemente dependentes das suas receitas.

 

4.  Coincidentemente, a redução das nossas receitas de exportação do petróleo foi seguida de um abanão na estrutura da equipa económica que governa Angola, sendo substituída a totalidade do governo do Banco Central, o BNA. Pode-se daí deduzir que a gestão das nossas divisas não teria, eventualmente, sido do agrado do Chefe do Executivo, uma a ideia que faz todo sentido, dado que nos Ministérios das Finanças, do Planeamento e outros correlacionados se mantêm os anteriores titulares.

 

5.  Creio que com a intenção de acalmar os mercados, o novo governador do BNA fez declarações optimistas, dando a entender que o abalo nas receitas de exportação não estaria a ter repercussões significativas na economia, que as restrições que se sentiam no mercado cambial e financeiro seriam da inteira responsabilidade dos seus gestores.

 

6.  Mas o Governador do BNA foi, de imediato, contrariado quer pela dura realidade, quer por declarações públicas de responsáveis do sector bancário, a começar pelo PCA do principal banco do Estado, o BPC, que se enrolou perante a comunicação social, deixando transparecer que, de facto, havia constrangimentos nas transferências e em outras movimentações financeiras envolvendo cambiais. E o imbróglio aumentou, quando outros responsáveis, com destaque para a actual Ministra do Comércio, se começaram a pronunciar, anunciando cortes nas importações e outras medidas restritivas.

 

7.  Tomando nota do mau momento vivido pelo país, o mercado paralelo de divisas reanimou, e a taxa de câmbio do dólar face ao kwanza quase que dobrou. O BNA teve que reagir, injectando mais divisas no mercado, para contrariar tal tendência de subida que levaria, inexoravelmente, a um disparo da taxa de inflação.

 

8.  São já indesmentíveis os estragos produzidos pela quebra do preço do petróleo no mercado internacional. Alguns deles repercutem-se sobre os nossos parceiros, sendo Portugal, sem sombra de dúvidas, um dos mais atingidos, pois algumas das suas cerca de 10.000 empresas relacionadas com o nosso país, estão já a recorrer à ajuda da banca com capitais angolanos instalada em Portugal, para resolverem problemas de tesouraria. Fazem-no sob a forma de pedidos de adiantamentos, a serem ressarcidos posteriormente, quando as transferências bancárias de divisas fluírem com maior regularidade.

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