1. O meu velho amigo Tonito, de seu nome
próprio, António Pascoal Fortunato, anunciou para o dia 27 deste mês de Março o
lançamento de um disco intitulado “MAFUMEIRA”, integrando 11 canções interpretadas
em português e em quimbundo, algumas das quais serão inéditas. De modo algum
poderia ficar indiferente a tal facto, pela longa e imaculada amizade que nos
liga.
2. Conheci o Tonito quando comecei a
trilhar os anos da minha adolescência, talvez a época mais relevante do meu
percurso de vida, pois foi aí que alicercei verdadeiramente os fundamentos da
minha identidade. Embora o Tonito seja significativamente mais velho do que eu,
é facto que corremos mais ou menos juntos a década de 60, mantendo sempre uma
relação de amizade muito salutar.
3. Por isso, tive a oportunidade de
acompanhar com pormenor o evoluir da sua carreira e da sua intervenção pública.
Sou, pois, testemunha do desenvolvimento das suas enormes capacidades, quer
artísticas, quer intelectuais.
4. Recordo-me, por exemplo, do seu envolvimento
nas artes: no canto, na dança, também no teatro. Eu vi o Tonito evoluir como
exímio e brilhante compositor, sempre muito preocupado com a qualidade das
letras das suas músicas e com a musicalidade das suas canções. Vi-o ligado a
este mundo, marcando, ele também, o compasso do nosso tempo, um tempo muito marcado
pelas causas que perfilhávamos.
5. O Tonito introduziu-me em ambientes
culturais, ajudando-me a contactar pessoas que tinham já a sua identidade mais amadurecida.
Foi por seu intermédio que penetrei, por exemplo, no ambiente do Botafogo, uma
associação cultural e recreativa do Bairro Marçal - o meu bairro - onde conheci
figuras do mundo cultural da época, como o Catarino Barber, o Manuel Faria,
entre outros.
6. Com o Tonito troquei livros e até
mesmo confidências de carácter político. Ele pôs-me ao corrente da existência e
do percurso de nacionalistas que viviam no exterior do país. Tenho, pois, por
ele, uma estima sem limites.
7. Uma particularidade que nunca esqueci
nem esquecerei: a nossa amizade jamais foi abalada pelos conflitos que
envolveram muitos de nós no pós-independência, onde, por vezes, até as próprias
famílias se dividiam em função das opções ideológicas e das visões políticas.
8. Para ilustrar o seu disco, o meu
amigo Tonito escolheu a designação “Mafumeira”. Acredito que o fez em homenagem
ao seu simbolismo. A Mafumeira é uma planta típica das Américas, sobretudo, da
América do Sul e Central, mas, também, do México e da África Ocidental. Ela é
objecto de culto na mitologia Maia. Entre nós, e a fibra obtida dos seus frutos
- a sumaúma - foi, inclusive, destacada num dos mais belos poemas de Viriato da
Cruz, o “Namoro”:
….
Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pele macia, da cor de jambo,
cheirando a rosas
Sua pele macia guardava as doçuras do
corpo rijo
Tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seus seios, laranjas – laranjas do
Loge
Seus dentes… - marfim…
Mandei-lhe essa carta
E ela disse que não.
….
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