quinta-feira, 23 de maio de 2013

MARGARET THATCHER E O FIM DO ESTADO SOCIAL


1.  É sabido que os políticos desencadeiam ódios e paixões, e poucas são as pessoas que lhes ficam indiferentes. Porém, o sentimento que, em geral, se nutre pelos políticos depende da posição em que cada um se coloca, se adepto, se adversário.

 

2.  Os apoiantes de um político exaltam-lhes as qualidades, seguem-no com entusiasmo, alcandoram-no aos píncaros, transformando-o em ídolo. Por sua vez, os adversários fazem o contrário: destacam-lhe eventuais defeitos, correm em busca de pontos fracos, rebaixam-no à mais ínfima condição. Chegam mesmo a diabolização.

 

3.  Margaret Thatcher, a ex-Primeira-ministra do Reino Unido, recentemente falecida, tornou-se um exemplo acabado da bipolarização de sentimentos. Ela não foi incapaz de gerar consensos, pelas políticas económicas radicais que implementou. Na Era Margaret Thatcher, desregulamentou-se o sector financeiro, flexibilizou-se o mercado de trabalho e foi grande a agressividade na privatização das empresas estatais.

 

4.  Que eu saiba, o único político que se tornou consensual foi Nelson Mandela, pelo que fez, pelo exemplo que deu ao mundo. Qualquer outro político não se escapa de integrar a regra geral: estimular ódios ou desencadear paixões. Inclusive, Barack Obama, Presidente norte-americano, que é visto por alguns dos seus compatriotas como a encarnação do “anti-Cristo”.

 

5.  É, pois, compreensível, que a humanidade esteja ansiosa pelo surgimento de um outro Mandela, que nos una a todos, materializando, assim, a ideia de Humanidade. Mas, voltemos a Margaret Thatcher, mulher política feita Baronesa pela Rainha do Reino Unido, e que deixou um legado não consensual.

 

6.  A crise petrolífera de 1979 que emergiu com a revolução islâmica no Irão – que desorganizou o sector petrolífero e fez os preços do crude subirem assustadoramente – apanhou o primeiro mandato de Margaret Thatcher no seu início. O Reino Unido entrou em recessão económica.

 

7.  Vários foram os fantasmas que ensombraram os mandatos de Margaret Thatcher, o maior dos quais foi, sem dúvida, a inflação. Entre 1979 e 1980, a inflação duplicou, passando de 10% para 20%. Seguiu-se um período de relativo controlo desse indicador. Porém, no final da década de 1980, a inflação retomou os dois dígitos, corroendo os rendimentos, sobretudo, dos mais pobres. Por norma, a inflação atinge todos, mas, a sua maior vítima é, inquestionavelmente, o sector economicamente mais débil.

 

8.  O período de relativo controlo da inflação por parte do governo conservador de Margaret Thatcher coincidiu com a recuperação da cotação da moeda nacional, a libra esterlina. A contrapartida à melhoria da cotação da libra esterlina foi, porém, o aumento das importações, pela perda de competitividade da indústria nacional. Os adeptos da “Dama de Ferro”, como era chamada, dizem que as indústrias que morreram tinham mesmo que morrer, pois eram ineficientes e a economia tinha que se modernizar. Uma modernização que acarretou enormes custos sociais: aumentou o desemprego.

 

9.  Para fazer face à crise, Margaret Thatcher introduziu políticas económicas que fazem dela um verdadeiro ícone do liberalismo económico. Até hoje em que o “thatcherismo” tem muitos acólitos, ela é a grande referência do neo-liberalismo.

 

10.           Uma das chaves-mestras do “thatcherismo” foi a redução da influência dos sindicatos. Com isso, conseguiu praticamente abolir o salário mínimo, posteriormente (em 1999) reposto pelo trabalhista Tony Blair.

 

11.           Margaret Thatcher promoveu também substanciais cortes orçamentais nos sectores sociais. Foi uma quase assumida adversária do Estado Social, conforme revelam documentos recentemente tornados públicos. Um desígnio que é irónico, dada a sua origem social modesta: era filha de um simples merceeiro.

 

12.           A sua política fiscal ilustra também a lógica do seu raciocínio: redução dos impostos sobre os rendimentos (impostos esses que decresciam à medida que aumentava o nível dos rendimentos) e sobre a propriedade, e o aumento dos impostos sobre o consumo.

 

13.           A ex-Primeira-ministra britânica exaltava as virtudes do mercado livre e os méritos da chamada “ordem espontânea”, na linha daquele que assumia como seu ideólogo, Friedrich Hayek, e também de Milton Friedman. Esteve sempre em consonância com as políticas económicas seguidas por Ronald Reagan, nos Estados Unidos da América.

 

14.           O balanço económico e social da Era Margaret Thatcher pode ser resumido nos seguintes termos: i) Baixa da produção industrial, com fortes reflexos no aumento do desemprego; ii) Aumento da assimetria nos rendimentos e consequente deterioração do Coeficiente de Gini; iii) Aumento do número dos mais pobres iv) Crescimento do número de crianças abaixo da linha da pobreza.

 

15.            Há quem a idolatre apresentando uma outra visão do mundo que ela criou: artífice da modernização da economia britânica. Talvez isso explique o porquê de a morte de Margaret Thatcher ter sido lamentada por uma parte da população britânica e festejada por outra parte.
 

 
        16Mas uma coisa é inegável: as suas políticas económicas e sociais constituíram realmente uma verdadeira rotura com o modelo que vinha sendo construído na Europa. Um tempo que, afinal, não é assim tão longínquo. E ela disseminou, realmente, muitos seguidores que a procuram imitar, nesta período em que a moda é a destruição do Estado Social na Europa.

2 comentários: