PDM – UM DESÍGNIO A ASSINALAR
- A manifesta vontade
do Chefe do Executivo angolano de ver o nosso país transitar do escalão
dos Países de Desenvolvimento Baixo (PDB) para o dos Países de
Desenvolvimento Médio (PDM) vai concitando a atenção de parte da nossa
opinião pública. Do meu ponto de vista, o meu ponto de vista, o desígnio do Presidente José Eduardo dos
Santos tem muito a ver com o modo como ele se pretende despedir da vida
política activa, legando uma marca para a história, que possa simbolizar positivamente
o seu longo consulado.
- A subida de escalão no
ranking internacional de desenvolvimento funcionaria, pois, como uma
espécie de “ponto de honra”, já que se tornam cada vez mais perceptíveis
certos sinais de mudança, sobretudo, porque se fala, com crescente
frequência, do aproximar do seu abandono do cargo de Chefe de Estado. JES
teria, pois, guardado na manga, para si, um trunfo que, pela certa, não
quererá repartir com ninguém…
- Geralmente, o mérito
da colocação dos países em escalões de desenvolvimento mais confortáveis é
partilhado por várias gerações de líderes. Um exemplo dessa partilha é o
do Botswana, mas, também, de Cabo Verde e Maurícias, países sucessivamente
governados por líderes que se foram revezando no poder por via democrática.
- Acho interessante o
facto de, em comum, esses 3 países serem parcos em recursos naturais. Dois
deles são, inclusive, insulares, e os três potenciaram o turismo como
sustentáculo do seu desenvolvimento, o que pressupõe grande estabilidade
política e social. Possuem também um sistema político democrático e
transparente, e a sua governação económica tem sido eficaz e bastante virtuosa.
Não são, pois, o mero resultado de um qualquer dom extraordinário da
natureza.
- Para a subida de
escalão, no ranking internacional de desenvolvimento avaliado pelo sistema
das Nações Unidas, concorrem em simultâneo três critérios: o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), o Rendimento per capita e o índice de Vulnerabilidade Económica. Por sua
vez, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é calculado, sobretudo, com
base no nível do rendimento, longevidade e educação.
- Os países de fraco
desenvolvimento humano serão os que possuem um IDH inferior a 0,499; os de
médio desenvolvimento serão os com um IDH situado entre 0,500 e 0,799; e os
de alto desenvolvimento os que se situam acima de 0,800.
- O critério da
educação é avaliado pela taxa de alfabetização e pela taxa de matrícula, a
longevidade pela expectativa de vida ao nascer e o critério do rendimento
tem a ver com o nível do PIB per
capita. Portanto, o desenvolvimento humano é visto numa perspectiva
multifacetada, esbatendo-se, assim, a mera visão economicista do passado.
- De acordo com as
estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
apresentadas em Março de 2013, o nosso país ocupou a posição 148, entre os
186 países considerados, e foi cotado como país de desenvolvimento humano
baixo. Nesse ponto de vista, o actual nível de bem-estar da nossa
população é ainda bastante reduzido, em especial, o bem-estar infantil.
- Sem pretender desvalorizar
os avanços que se produziram no país desde que terminou a guerra, eu penso
que o melhoramento do nosso IDH se deveu muito à subida do nível do
rendimento per capita, um
indicador que pode esconder, por vezes, realidades trágicas. Por isso, ele
deve ser relativizado, uma vez que tem subido muito a custa do aumento das
receitas provenientes da exportação do petróleo. Seria interessante também
avaliar-se a evolução do nosso IDH, desagregando-o nos seus diversos
parâmetros.
- Por exemplo, é por
demais evidente o crescimento das desigualdades no modo como a riqueza
está distribuída no nosso país. Isso pode ser feito pela análise do
chamado Coeficiente de Gini, quer ao nível nacional, quer ao nível
regional (em especial, o provincial). O mesmo se poderia fazer quanto à
educação e à longevidade. Isso dar-nos-ia uma perspectiva mais realista do
país que temos e do modo como o bem-estar se distribui entre nós. E porque
não mesmo termos uma melhor noção do que se passa nas cidades, nos
municípios e nas zonas rurais?
- A perspectiva global
nacional é fundamental, mas a sua desagregação nos mais diversos
parâmetros serviria de um valioso instrumento para a correcção das
assimetrias que, por norma, são factores desagregadores que, por vezes,
põem em causa os próprios fundamentos do Estado unitário.
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