quinta-feira, 4 de junho de 2009

UMA QUESTÃO DE CREDIBILIDADE


A última reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, OPEP, criou muita expectativa, dada a persistente importância do petróleo na economia mundial. Houve quem esperasse que dela saísse um acordo para a redução da actual quota de produção do cartel, situada em 24,84 milhões de barris/dia, como forma de se elevar o preço do produto no mercado internacional. Essa era, seguramente, a expectativa de um grande número de países exportadores de petróleo, sobretudo os mais dependentes das receitas de exportação dessa matéria-prima. Porém, sucedeu que a OPEP optou por manter inalterável a quota definida em Março, alegadamente porque aquela ainda nem foi cumprida, com alguns países a desrespeitarem a decisão assumida. Soubemos agora que, embora estejamos a assumir a direcção rotativa do cartel, o nosso país foi um dos que desrespeitou a quota a si estabelecida, estando neste momento a exportar na ordem dos 1,8 milhões de barris/dia, portanto, acima dos 1,6 milhões de barris/dia, então acordados.

A tentação para a violação das quotas resulta de se pensar que, assim, se consegue arrecadar mais receitas, criando mais facilmente as condições para a realização dos projectos orçamentados pelo Estado. Porém, se todos cumprissem as quotas, seguramente que se reduziria a oferta do petróleo, com a consequente elevação do seu preço, e talvez se obtivesse o mesmo resultado financeiro, com um ganho acrescido: o prolongamento das reservas por mais algum tempo. É tudo, pois, uma questão de opção: ou buscamos resultados económicos imediatos, ou preferimos estender no tempo a exploração de um recurso que, tendo embora um futuro muito incerto, todavia, ainda não se possa dizer que tenha já o seu funeral anunciado.

A importância da OPEP decorre do facto de o cartel participar com 40% na circulação mundial do petróleo. Com o esforço de contenção, mais facilmente se poderia alcançar um preço internacional próximo dos 70 usd / barril. Nas circunstâncias actuais, esse é considerado o verdadeiro preço de equilíbrio, um preço que mais justamente satisfaria as expectativas quer dos vendedores, quer dos compradores, como nos ensinam as regras mais elementares de funcionamento do mercado. Um preço muito acima deste patamar causará grande sobrecarga nos custos, transformando-se em factor inibidor do processo de recuperação económica que o mundo hoje aspira.

Ao desrespeitar a quota que nos foi atribuída, o nosso país colocou-se, pois, em contra-mão, entrando no leque dos incumpridores, mesmo que o justifique com a premência de obter recursos financeiros para a realização dos alguns programas e projectos. Podemos também retirar mais outra conclusão: quando Angola decidiu aderir ao cartel do petróleo, não terá sopesado bem todos os prós e todos os contras. Está agora na incómoda situação de ser considerado mais um dos países relapsos, com um défice de reputação para circunstâncias futuras.

O que se passou tem, afinal, uma explicação já consagrada em economia: caso todos os países cumprissem as suas quotas de produção, a oferta mundial do produto reduzir-se-ia – então, os seus preços internacionais tenderiam a subir, para um nosso maior conforto, em termos de receitas fiscais; caso todos os países violassem o acordo de produção, aumentava a oferta do produto – com a consequente redução do preço praticado, e implicações negativas sobre as receitas; porém, se algum, ou alguns dos parceiros violassem o acordo, como afinal veio a suceder, todos teriam a tentação de o violar. (Todos esses resultados só serão válidos se não houver uma alteração muito sensível do lado da procura, como parece estar a suceder nos tempos que correm).

O comportamento relapso de alguns dos parceiros no cartel coloca, pois, uma questão de credibilidade e de confiança, e não se vislumbra, por enquanto, quais serão as suas consequências no médio e no longo prazos. É que, nas relações de mercado, ou mesmo em outras relações da vida, o comportamento estratégico dos jogadores e, sobretudo, o seu grau de credibilidade são relevantes para a tomada de decisões e os seus resultados finais, em especial, quando a interacção estratégica se realiza repetidas vezes. No fundo, no fundo, o que é importante é cada um decidir: ou se visam apenas os resultados imediatos; ou interessa mais a soma dos resultados ao longo do tempo. A actual interacção estratégica vai prosseguir em próximos actos. Teremos, então, a oportunidade de avaliar se realmente valeu a pena violar as regras, ou se a credibilidade e a confiança nos negócios não passam, afinal, de simples loucuras dos economistas.
A última reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, OPEP, criou muita expectativa, dada a persistente importância do petróleo na economia mundial. Houve quem esperasse que dela saísse um acordo para a redução da actual quota de produção do cartel, situada em 24,84 milhões de barris/dia, como forma de se elevar o preço do produto no mercado internacional. Essa era, seguramente, a expectativa de um grande número de países exportadores de petróleo, sobretudo os mais dependentes das receitas de exportação dessa matéria-prima. Porém, sucedeu que a OPEP optou por manter inalterável a quota definida em Março, alegadamente porque aquela ainda nem foi cumprida, com alguns países a desrespeitarem a decisão assumida. Soubemos agora que, embora estejamos a assumir a direcção rotativa do cartel, o nosso país foi um dos que desrespeitou a quota a si estabelecida, estando neste momento a exportar na ordem dos 1,8 milhões de barris/dia, portanto, acima dos 1,6 milhões de barris/dia, então acordados.

A tentação para a violação das quotas resulta de se pensar que, assim, se consegue arrecadar mais receitas, criando mais facilmente as condições para a realização dos projectos orçamentados pelo Estado. Porém, se todos cumprissem as quotas, seguramente que se reduziria a oferta do petróleo, com a consequente elevação do seu preço, e talvez se obtivesse o mesmo resultado financeiro, com um ganho acrescido: o prolongamento das reservas por mais algum tempo. É tudo, pois, uma questão de opção: ou buscamos resultados económicos imediatos, ou preferimos estender no tempo a exploração de um recurso que, tendo embora um futuro muito incerto, todavia, ainda não se possa dizer que tenha já o seu funeral anunciado.

A importância da OPEP decorre do facto de o cartel participar com 40% na circulação mundial do petróleo. Com o esforço de contenção, mais facilmente se poderia alcançar um preço internacional próximo dos 70 usd / barril. Nas circunstâncias actuais, esse é considerado o verdadeiro preço de equilíbrio, um preço que mais justamente satisfaria as expectativas quer dos vendedores, quer dos compradores, como nos ensinam as regras mais elementares de funcionamento do mercado. Um preço muito acima deste patamar causará grande sobrecarga nos custos, transformando-se em factor inibidor do processo de recuperação económica que o mundo hoje aspira.

Ao desrespeitar a quota que nos foi atribuída, o nosso país colocou-se, pois, em contra-mão, entrando no leque dos incumpridores, mesmo que o justifique com a premência de obter recursos financeiros para a realização dos alguns programas e projectos. Podemos também retirar mais outra conclusão: quando Angola decidiu aderir ao cartel do petróleo, não terá sopesado bem todos os prós e todos os contras. Está agora na incómoda situação de ser considerado mais um dos países relapsos, com um défice de reputação para circunstâncias futuras.

O que se passou tem, afinal, uma explicação já consagrada em economia: caso todos os países cumprissem as suas quotas de produção, a oferta mundial do produto reduzir-se-ia – então, os seus preços internacionais tenderiam a subir, para um nosso maior conforto, em termos de receitas fiscais; caso todos os países violassem o acordo de produção, aumentava a oferta do produto – com a consequente redução do preço praticado, e implicações negativas sobre as receitas; porém, se algum, ou alguns dos parceiros violassem o acordo, como afinal veio a suceder, todos teriam a tentação de o violar. (Todos esses resultados só serão válidos se não houver uma alteração muito sensível do lado da procura, como parece estar a suceder nos tempos que correm).

O comportamento relapso de alguns dos parceiros no cartel coloca, pois, uma questão de credibilidade e de confiança, e não se vislumbra, por enquanto, quais serão as suas consequências no médio e no longo prazos. É que, nas relações de mercado, ou mesmo em outras relações da vida, o comportamento estratégico dos jogadores e, sobretudo, o seu grau de credibilidade são relevantes para a tomada de decisões e os seus resultados finais, em especial, quando a interacção estratégica se realiza repetidas vezes. No fundo, no fundo, o que é importante é cada um decidir: ou se visam apenas os resultados imediatos; ou interessa mais a soma dos resultados ao longo do tempo. A actual interacção estratégica vai prosseguir em próximos actos. Teremos, então, a oportunidade de avaliar se realmente valeu a pena violar as regras, ou se a credibilidade e a confiança nos negócios não passam, afinal, de simples loucuras dos economistas.

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