quinta-feira, 27 de agosto de 2009

África à Margem da Globalização

Tal como a geopolítica, a globalização tornou-se o novo sistema mundial; nenhum poder a controla e só pode ser impedida se tudo o resto for impedido (Parag Khanna (2009)”.

No início do processo de globalização o império Americano, com o colapso da União Soviética, procurou afirmar-se como o único centro de poder dominante a nível mundial, mas a dispersão do poder nuclear por várias nações submeteu o seu poder militar ao poder económico e a globalização perdeu o “rumo” da americanização do mundo. A “guerra global contra o terrorismo” mostra bem que o interesse americano não é o interesse de muitas nações e povos.

A União Europeia prossegue a sua afirmação expandindo, com base no consenso, o seu império com a entrada de novos países membros. Possui legislação supranacional, é o maior mercado do mundo, tem poder económico e é tecnologicamente avançada.

A China, país mais populoso do mundo, estende a sua influência subjugando os países vizinhos através da expansão demográfica e da integração económica, ao mesmo tempo que procura uma parceria económica com a América e se mostra hesitante numa parceria estratégica no domínio militar com a Rússia.

Num quadro geopolítico versus globalização a União Europeia, a China e a América disputam o poder de império entre si, dispondo, para tal, do seu poder económico, político e militar aos países das respectivas zonas de influência e atraindo nações tidas como centros de poder regional, ou apoiando as que sejam consideradas inimigas do império concorrente.

América, UE e China, são os três impérios cujos interesses tecem a emaranhada rede da globalização, sem que nenhum deles a controle. À América falta-lhe o poder económico, à UE a união política e poder militar, e à China a democracia.

A enigmática Rússia, separada da EU pela NATO, resiste aos avanços da expansão da EU a oriente e da América, subjugando os países vizinhos, se necessário com o recurso à força, e alimentando as suas aspirações imperiais através dos instrumentos de globalização de que dispõe: recursos energéticos e a rede de gasodutos.

Não há um centro único de poder a nível mundial. O poder mundial é multipolar. É exercido de forma desproporcionada pelos três impérios (América, EU e China), pelos países do primeiro mundo – países da OCDE – e pelos países do segundo mundo – países emergentes com o Brasil Rússia, Índia e China como núcleo duro – sem que nenhum país em particular ou grupo de países tenha o controlo sobre a globalização.

É o poder dos três impérios o que lhes confere vantagens na globalização, da qual os países do segundo mundo beneficiam parcialmente.

É com base na construção de relações mais sólidas entre os países que se procura exercer a governação global. Eles reúnem-se em grupos de interesses, onde o denominador comum é a economia ou objectivos políticos, procurando desse modo fortalecer-se cada vez mais:

– O G3, formado pelos três impérios, procura partilhar entre si o controlo da globalização;

– O G5, que inclui a China, Brasil, Índia, México, África do Sul, visa a defesa dos seus interesses na globalização e representa os restantes países em desenvolvimento evitando a sua exclusão.

– O G6, formado pelos Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido, Alemanha, França e Itália, países desenvolvidos economicamente e de maior importância a nível mundial, procurou controlar a globalização.

– O G8 inclui o G6+Canadá e Rússia, procura legitimar e dar maior representatividade a América e a EU como impérios, em defesa dos seus interesses na globalização em geral e particularmente no Comércio Mundial;

– O G13, constituído pelo G8+G5, tem como objectivo o fortalecimento do G8 na luta contra as alterações climáticas, através da cooperação com os principais países emergentes.

– O G14 integra: os EUA, Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Canadá e Rússia (G8); o Brasil, México, Índia, África do Sul e Egipto (G5); e a China.

– O G20 tem como objectivo “discutir e desenvolver políticas de promoção do crescimento sustentado da economia global”. É formado por 19 países, representados pelos respectivos ministros das finanças e governadores dos bancos centrais, mais a UE. Fazem parte dos G20, os seguintes países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reno Unido, EUA.

O G14 é a consagração da China como o terceiro império. O G8 não morreu, tal como o G6 e o G15, ao fazerem parte de outros grupos de nações. Eles continuam a existir nos corredores do jogo do poder mundial pelo controlo da globalização.

A África do Sul e o Egipto são apenas instrumentos da geopolítica africana dos três impérios, pelo controle do mundo. Estes países não têm demonstrado capacidade económica nem vontade política para congregar os países das respectivas áreas de influência, criando espaços económicos e uniões políticas comuns, de forma a promover o desenvolvimento sustentável. Por exemplo, a África do Sul está a perder a sua capacidade tecnológica e não consegue impor-se como a locomotiva económica dos países da sua região. O Egipto nem figura no G20.

Os países do terceiro mundo, sendo alguns deles (a)narco-estados –Afeganistão, Colômbia, Bolívia, Guiné-Bissau, Guiné Conakry, Serra Leoa, Somália, Venezuela, Zimbabwe, etc. – não têm lugar na geografia do poder a nível mundial.

Os países do terceiro mundo não participam da globalização, não por dela se omitirem nem por serem marginalizados, mas tão-somente porque nada têm a oferecer, tendo mesmo muitos deles dificuldades em alimentarem-se sem a ajuda dos países mais industrializados do mundo. Na última cimeira do G8 em L'Aquila, Itália, foram destinados 20 mil milhões de dólares americanos em ajuda alimentar para a África.

Em L’Aquila, Obama deixou claro que os países africanos terão de fazer mais pelo próprio futuro ao referir que quando seu pai emigrou para os Estados Unidos, a economia do Quénia era idêntica à da Coreia do Sul, mas o país chegou ao que é hoje: empobrecido e politicamente instável.

Obama disse também, cito: "Tem-se falado do legado do colonialismo e de outras políticas das nações mais ricas, mas, sem querer diminuir a História, notei que o Governo da Coreia do Sul, trabalhando com o sector privado e com a sociedade civil, foi capaz de criar um conjunto de instituições que proporcionaram transparência, responsabilização e eficiência, permitindo um extraordinário progresso económico. E não há razões para que as nações africanas não possam fazer o mesmo".

Os dirigentes de Angola, Nigéria, Argélia e Senegal, talvez tenham sido convidados a participar na cimeira de L’Aquila apenas para receberem o recado.

A Itália embora tenha convidado Angola a assistir a cimeira não participou da ajuda alimentar concedida a África, deixando claro que alguns dos países do terceiro mundo representam apenas um espaço mercantilista, graças a dotação dos seus recursos energéticos e minerais.

Benefícios da globalização, nomeadamente nos países africanos, nicles! África continua a ser “um corpo inerte onde cada um vem debicar o seu bocado”.

José Dias Amaral (Economista)

1 comentário:

  1. justino o que vc entende desse assunto sobre a globalização da Africa ?
    vc pode mim explicar ?

    ResponderEliminar