quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A PALANCA DO PEDRO VAZ PINTO

1. Foi muito estimulante saber que, finalmente, terminou a incerteza quanto à sobrevivência, ou não, da Palanca Negra Gigante, o antílope de que temos o privilégio de ser os únicos detentores a nível mundial. Ela só existe no Parque Nacional de Cangandala, Província de Malange, e na Reserva Integral do Luando, Província do Bié.

2. A prova de que aquele majestoso antílope não desapareceu definitivamente é agora a anunciada captura de três exemplares. Com o envio desses exemplares para um santuário no Parque de Cangandala, colocados em condições de se reproduzirem, renasceu a esperança de um dia qualquer pudermos ainda ver manadas desses animais a passearem-se nesses Parques, desfrutando de paz e de condições de vida que lhes são adequadas. Na operação de recuperação, participaram especialistas em vida selvagem provenientes do Botswana e da África do Sul.

3. A iniciativa da busca e preservação da Palanca Negra Gigante deveu-se ao Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, de que é justo destacar o envolvimento do Engenheiro Pedro Vaz Pinto, coordenador do Projecto, desde o seu início no ano 2003.

4. Para nós, angolanos, a Palanca Negra Gigante funciona como um verdadeiro símbolo. Pela sua singularidade, ela é uma imagem de marca, um orgulho, um factor de identidade nacional. A Palanca Negra Gigante não terá propriamente a dignidade oficial dos símbolos nacionais constitucionalmente consagrados, como a bandeira ou o hino nacional, mas ela ganhou um espaço tão grande nos nossos afectos, que identifica a nossa selecção nacional de futebol, e tem também a sua imagem exibida no exterior da nossa companhia aérea nacional, a TAAG.

5. Desde os tempos pré-históricos, os animais foram sempre muito importantes para os homens, vendo-se o modo como eles são retratados nas obras de arte. Por vezes, determinados animais constituíram mesmo, para alguns povos, objectos de adoração religiosa. Não é, pois, por acaso que muitos dos achados arqueológicos encontrados em diversas partes do mundo ostentam figuras humanas com cabeças de animais. Foi no Egipto Antigo, foi na China, na Índia, em outras paragens. Os seus deuses tinham corpo humano encimados com cabeças de animais que simbolizavam a força e o poder. Eram venerados nessas grandes civilizações que deixaram marcas indeléveis.

6. Os tempos já são outros, mas não tenho dúvida alguma de que a nossa afeição pela Palanca Negra Gigante é tão manifesta que a notícia da sua reaparição causou-me a comoção própria de um sentimento de reencontro com algo que nos identifica.

7. Compete agora às entidades oficiais desencadear as acções que garantam àqueles que estão envolvidos na tarefa de restauro da espécie as melhores condições para puderem levar a cabo o repovoamento e preservação de um bem que nos é comum, em nome defesa da biodiversidade e da singularidade do nosso país.

8. Enche-me de orgulho o facto de o Projecto de Conservação da Palanca Negra Gigante ter sido desencadeado por uma estrutura da Universidade Católica de Angola, uma instituição a que estou ligado desde o seu início. Julgo que nesta altura em que comemoramos os 10 primeiros anos da nossa existência enquanto instituição de ensino e investigação, sermos agraciados com o seu ressurgimento, captura e protecção é, talvez, o melhor prémio para todos quantos se envolveram na causa da UCAN. Ficou, pois, provado que o papel das Universidades não se deve circunscrever apenas à sua função docente. A interacção com a sociedade é também uma das suas missões.

9. Eu penso que o êxito da missão a que se dedicou o Engenheiro Pedro Vaz Pinto deveria merecer um reconhecimento público e, quiçá, institucional. Talvez mesmo a outorga de um galardão que o distinga como um dos angolanos que foi capaz de perceber o valor inestimável dessa dimensão do património nacional, consubstanciado numa espécie animal de que somos os únicos detentores.

Quando é por demais evidente um manifesto desrespeito pelo nosso património arquitectónico, quando se derrubam edificações que simbolizaram épocas e que eram retratos vivos de pedaços da nossa história colectiva, recuperar para a vida a Palanca Negra Gigante é um serviço grandioso que se presta ao nosso país. Está, pois, de parabéns a Universidade Católica de Angola através do seu Centro de Estudos e Investigação Científica. Estão também de parabéns todas as entidades nacionais e estrangeiros que tornaram este sonho possível. Está especialmente de parabéns o Engenheiro Pedro Vaz Pinto – ele, afinal, o rosto visível desta enorme epopeia.

2 comentários:

  1. Muitos parabéns. Gostaria de dar a conhecer a intenção de um Grupo de cidadãos do Facebook «Angola em Portugal; Portugal em Angola» que tenciona fazer uma petição à Comissão da Unesco em Angola, pelo que muito gostaria que visitassem o nosso blogue.
    http://aeppea.wordpress.com/2011/08/04/palanca-negra-a-patrimonio-mundial/
    Aproveito para cumprimentar o louvável trabalho do engenheiro Pedro Vaz Pinto, cujo contacto muito gostaria de obter, de molde a que podê-lo integrar esta causa http://www.causes.com/causes/629320-palanca-negra-a-patrim-nio-da-humanidade/about

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  2. Parabéns a todos pelo trabalho.
    Sempre me habituei a ter estes imponentes animais muito próximo e nunca fui capaz de carregar no gatilho. Antes clicava na maquina fotográfica.
    Um animal que chora e faz chorar.

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