quinta-feira, 6 de maio de 2010

DE NOVO A CRISE NA EUROPA

1. Os países integrantes da União Europeia vivem hoje sob grande tensão, desde que despoletou a crise financeira na Grécia, um país que, juntamente com Portugal, integra o que já é viso como o elo mais fraco da vasta cadeia financeira que actualmente liga 16 dos 27 países da União.

2. A Eurolândia, o jargão geralmente utilizado para designar o conjunto desses 16 países – que abandonaram as suas antigas moedas nacionais e adoptaram o euro como moeda única – atravessa agora a sua maior crise desde que foi instituída há onze anos. Ventila-se agora a hipótese de uma futura desintegração, caso não seja possível imporem-se regras capazes de promover melhor coordenação das suas políticas económicas.

3. A crise grega decorre da incapacidade daquele país para saldar a enorme dívida pública que possui. Veja-se que até ao dia 19 de Maio, a Grécia terá que pagar a pesada factura de 8,5 mil milhões de euros. Caso queira sair desta crise, terá também que procurar reestruturar a sua dívida, fixando novos prazos de pagamento. Mesmo assim, esse país carece de um forte apoio financeiro internacional, por parte de países da União Europeia mas, também, do Fundo Monetário Internacional (FMI).

4. Não é descabido abordar este assunto europeu, aqui neste meu espaço de opinião.

5. Aparentemente, a Grécia fica muito distante das nossas preocupações. Porém, como o processo de integração regional, e mesmo até continental, tem merecido um crescente cuidado por parte dos actuais dirigentes políticos africanos, eu julgo que um exemplo como o da Grécia deve servir-nos como pontos de referência. E mais ainda porque, caso a crise grega se propague para Portugal e, depois, se alastre para outros países europeus, teremos então, provavelmente, um “efeito dominó” de resultados incalculáveis.

6. É um facto que as economias africanas estão muito estreitamente ligadas às economias europeias, e estão-no por vários canais: pelas importações de bens e serviços, pelos investimentos externos, pelas fontes de financiamento, pelas nossas exportações, pelas remessas dos africanos emigrados na Europa. Logo, qualquer crise que tenha lugar na economia europeia tornará ainda mais difícil o caminho para África se libertar da pobreza e do subdesenvolvimento.

7. Cresce o pessimismo em torno da crise que a Grécia experimenta, ao ponto de um investigar europeu, o director do European Strategy Forum, Peter Ludlow, ter declarado que uma falta de apoio europeu à Grécia poderá funcionar como “uma arma nuclear e levar ao desmantelamento do euro”. Esta afirmação teve como pano de fundo as resistências iniciais da Alemanha a um apoio europeu ao seu parceiro mediterrânico.

8. As últimas notícias avançam mesmo que contágios da crise financeira grega em países como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, jocosamente designados por PIIGS, tidos como nações periféricas na Eurolândia.

9. A contaminação dessas ditas nações periféricas da Zona Euro terá sido feita pela via fiscal, com a subida em flecha dos riscos e dos juros das dívidas desses países, que se tornaram o alvo preferencial dos especuladores. Não é, pois, por acaso, que eles hoje já exibem défices fiscais assustadores. O défice da Irlanda já vai nos 14,3%, o da Espanha 13,6%, o da Itália nos 11,2%. O défice fiscal português é, ainda assim, o menor de entre eles: 9,4%. Essas são também economias com taxas de crescimento muito reduzidas e com elevadíssimos níveis de desemprego.

10. Apresentam-se agora, pois, para cenários preocupantes, como a subida da contestação social, sob a forma de greves e outros actos de protesto, mas, igualmente, a previsão de futuras alterações no sentido de voto de um eleitorado que não aceita facilmente as propostas de solução draconianas apresentadas pelos governos nacionais e estimuladas pelas principais agências internacionais de crédito.

11. A pior solução que a Europa poderá ser, seguramente, a ruptura do Tratado de Maastricht, o Pacto que fez do Euro a moeda única europeia.

12. Um eventual retorno ao anterior cenário – o das moedas nacionais – acarretará custos económicos e sociais de toda a ordem. Terá, também, resultados políticos não calculáveis.

13. Nesta altura, as lideranças africanas que procuram seguir, muito fora do tempo, os passos dados pelos líderes europeus nos últimos 50 anos, deverão assumir uma postura mais cautelosa. Deverão fazer uma leitura mais realista do estado actual do nosso continente.

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