1. O drama vivido pelos 33 mineiros chilenos (na realidade são 32 chilenos e 1 boliviano) – retidos durante 69 dias a cerca de 700 metros de profundidade depois de um desabamento – apaixonou o mundo. Não creio que alguém tenha ficado indiferente ao seu sofrimento. Creio também que, não obstante todo o empenho demonstrado pelas autoridades do país em retirá-los do fundo do poço, pairou sempre uma mistura de ansiedade e medo, pois o resultado final poderia ser outro, que não o que, felizmente, se veio a verificar.
2. Os mineiros soterrados trabalhavam numa mina de ouro e cobre, na localidade chilena de São José, uma exploração que já data do ano de 1869 e que antes conheceu 5 outros acidentes fatais. Nesta década, terão já morrido quase 4 centenas de mineiros naquele país, e mesmo no último mês de Janeiro, pereceram ali 31 trabalhadores.
3. Grande parte dos desastres em minas tem origem na violação das normas de segurança por parte dos patrões. De acordo com as recomendações técnicas, as minas devem possuir pelo menos 2 túneis de comunicação com a superfície, para que, face à interrupção de um deles, o trânsito possa fazer-se pelo outro. A mina chilena de São José possuía um único túnel de comunicação que se viu obstruído aquando do desabamento de 5 de Agosto.
4. A falta de condições de segurança na exploração mineira é uma constante também na China, de onde constantemente surgem notícias sobre tragédias do género. Nesse país, somente em 2009, e segundo estatísticas oficiais (de pouca credibilidade), terão morrido mais de 2.700 mineiros envolvidos na exploração de carvão. A pior tragédia desse ano, inclusive, numa mina controlada pelo Estado, aconteceu no nordeste do país, com um saldo fatal de 104 mineiros mortos. Em 2005, no noroeste da China, uma explosão numa mina de carvão fez perder 214 operários. Vemos, pois, que o desenvolvimento económico da China está a ser realizado com um muito elevado custo em desconforto e em vidas humanas.
5. O último desastre do Chile tornou-se, sobretudo, espectacular porque bateu todos os recordes de sobrevivência humana, em condições mais ou menos idênticas. Além disso teve uma cobertura mediática que jamais outro conheceu. Penso que inaugurou uma nova era, permitindo ainda chamar a atenção do mundo para a vida desses homens que se sacrificam muito para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento dos seus países. Diz-se que o espírito do mineiro é peculiar.
6. As duras condições de trabalho nas profundezas da terra, e os desastres que lhe são inerentes, embora com nuances e especificidades, são ainda frequentes em outros países como a África do Sul, Ucrânia, Austrália, México, Colômbia, e até mesmo nos Estados Unidos da América.
7. Mais ou menos na altura em que ficaram enclausurados os mineiros chilenos, o mundo recordava os 10 anos decorridos desde que 118 marinheiros russos de um submarino nuclear, o Kursk, se viram envolvidos numa situação dramática no fundo do mar. É que soterramento dos mineiros aconteceu no dia 5 de Agosto deste ano, e o afundamento do submarino nuclear russo no Mar de Barents, teve lugar a 12 de Agosto de 2000.
8. Os marinheiros russos cumpriam uma missão eventualmente de rotina, ou estariam engajados numa actividade específica que jamais foi esclarecida. O que se sabe até agora é que houve uma explosão a bordo, deixando temporariamente vivos 23 dos 118 marinheiros que, infelizmente, também não puderam ser recolhidos. Morreram de morte lenta, por asfixia, talvez mesmo por afogamento dentro do submarino. Os restantes 95 morreram de imediato, na sequência da explosão.
9. As previsões iniciais para a conclusão do eventual salvamento dos mineiros chilenos apontavam para uma duração de até 4 meses – pelo que deveriam ser recolhidos apenas na proximidade do próximo Natal. De imediato, foram tomadas as disposições necessárias para se ir abastecendo os sinistrados, levando-lhes alimentação e água, para além de outro conforto capaz de minorar o seu sofrimento.
10. As autoridades chilenas portaram-se à altura do acontecimento, não desprezando, inclusive, os conselhos técnicos dados por peritos da NASA, especialistas em situações de confinamento humano. Prevaleceu, pois, o bom-senso e o espírito de solidariedade.
11. Não foi isso o que se passou no caso do submarino nuclear pertencente à orgulhosa Frota Russa do Norte. Perante a tragédia, a marinha russa optou primeiro por negar o acidente, vindo mais tarde a reconhecê-lo, mas quando já teriam transcorrido os momentos cruciais para um eventual êxito da operação de socorro. Esse atraso pode ter sido fatal, e veio ainda a ser agravado pelo facto de o Presidente russo, Vladimir Putin – em gozo de férias em Sotchi – ter começado por recusar a ajuda internacional oferecida por países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos, Reino Unido e a Noruega.
12. São comportamentos distintos que só podem ser entendidos se tivermos em conta a época em que sucederam mas, sobretudo, a cultura política dos intervenientes.
13. O afundamento do Kursk deu-se poucos anos depois do fim da Guerra-Fria e envolveu um país saído de um regime fechado, desconfiando de tudo e de todos. O soterramento dos mineiros chilenos teve lugar em época de maior distensão internacional, mas, também, num país onde a democracia já é uma realidade – logo, são mais propensos ao respeito pelos direitos humanos e a opinião pública. Penso que estamos agora melhor entendidos.
2. Os mineiros soterrados trabalhavam numa mina de ouro e cobre, na localidade chilena de São José, uma exploração que já data do ano de 1869 e que antes conheceu 5 outros acidentes fatais. Nesta década, terão já morrido quase 4 centenas de mineiros naquele país, e mesmo no último mês de Janeiro, pereceram ali 31 trabalhadores.
3. Grande parte dos desastres em minas tem origem na violação das normas de segurança por parte dos patrões. De acordo com as recomendações técnicas, as minas devem possuir pelo menos 2 túneis de comunicação com a superfície, para que, face à interrupção de um deles, o trânsito possa fazer-se pelo outro. A mina chilena de São José possuía um único túnel de comunicação que se viu obstruído aquando do desabamento de 5 de Agosto.
4. A falta de condições de segurança na exploração mineira é uma constante também na China, de onde constantemente surgem notícias sobre tragédias do género. Nesse país, somente em 2009, e segundo estatísticas oficiais (de pouca credibilidade), terão morrido mais de 2.700 mineiros envolvidos na exploração de carvão. A pior tragédia desse ano, inclusive, numa mina controlada pelo Estado, aconteceu no nordeste do país, com um saldo fatal de 104 mineiros mortos. Em 2005, no noroeste da China, uma explosão numa mina de carvão fez perder 214 operários. Vemos, pois, que o desenvolvimento económico da China está a ser realizado com um muito elevado custo em desconforto e em vidas humanas.
5. O último desastre do Chile tornou-se, sobretudo, espectacular porque bateu todos os recordes de sobrevivência humana, em condições mais ou menos idênticas. Além disso teve uma cobertura mediática que jamais outro conheceu. Penso que inaugurou uma nova era, permitindo ainda chamar a atenção do mundo para a vida desses homens que se sacrificam muito para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento dos seus países. Diz-se que o espírito do mineiro é peculiar.
6. As duras condições de trabalho nas profundezas da terra, e os desastres que lhe são inerentes, embora com nuances e especificidades, são ainda frequentes em outros países como a África do Sul, Ucrânia, Austrália, México, Colômbia, e até mesmo nos Estados Unidos da América.
7. Mais ou menos na altura em que ficaram enclausurados os mineiros chilenos, o mundo recordava os 10 anos decorridos desde que 118 marinheiros russos de um submarino nuclear, o Kursk, se viram envolvidos numa situação dramática no fundo do mar. É que soterramento dos mineiros aconteceu no dia 5 de Agosto deste ano, e o afundamento do submarino nuclear russo no Mar de Barents, teve lugar a 12 de Agosto de 2000.
8. Os marinheiros russos cumpriam uma missão eventualmente de rotina, ou estariam engajados numa actividade específica que jamais foi esclarecida. O que se sabe até agora é que houve uma explosão a bordo, deixando temporariamente vivos 23 dos 118 marinheiros que, infelizmente, também não puderam ser recolhidos. Morreram de morte lenta, por asfixia, talvez mesmo por afogamento dentro do submarino. Os restantes 95 morreram de imediato, na sequência da explosão.
9. As previsões iniciais para a conclusão do eventual salvamento dos mineiros chilenos apontavam para uma duração de até 4 meses – pelo que deveriam ser recolhidos apenas na proximidade do próximo Natal. De imediato, foram tomadas as disposições necessárias para se ir abastecendo os sinistrados, levando-lhes alimentação e água, para além de outro conforto capaz de minorar o seu sofrimento.
10. As autoridades chilenas portaram-se à altura do acontecimento, não desprezando, inclusive, os conselhos técnicos dados por peritos da NASA, especialistas em situações de confinamento humano. Prevaleceu, pois, o bom-senso e o espírito de solidariedade.
11. Não foi isso o que se passou no caso do submarino nuclear pertencente à orgulhosa Frota Russa do Norte. Perante a tragédia, a marinha russa optou primeiro por negar o acidente, vindo mais tarde a reconhecê-lo, mas quando já teriam transcorrido os momentos cruciais para um eventual êxito da operação de socorro. Esse atraso pode ter sido fatal, e veio ainda a ser agravado pelo facto de o Presidente russo, Vladimir Putin – em gozo de férias em Sotchi – ter começado por recusar a ajuda internacional oferecida por países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos, Reino Unido e a Noruega.
12. São comportamentos distintos que só podem ser entendidos se tivermos em conta a época em que sucederam mas, sobretudo, a cultura política dos intervenientes.
13. O afundamento do Kursk deu-se poucos anos depois do fim da Guerra-Fria e envolveu um país saído de um regime fechado, desconfiando de tudo e de todos. O soterramento dos mineiros chilenos teve lugar em época de maior distensão internacional, mas, também, num país onde a democracia já é uma realidade – logo, são mais propensos ao respeito pelos direitos humanos e a opinião pública. Penso que estamos agora melhor entendidos.
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