E ASSIM PARTIU O PINTO JOÃO…
- Morreu um Amigo de
longa data, o Paulino Pinto João, com quem convivi de perto, já lá vão muitos
anos. Conhecemo-nos ainda no período colonial, como estudantes – eu no
Liceu Salvador Correia, e ele já mais adiantado, no Instituto Comercial de
Luanda.
- O Paulino Pinto João
era bem mais velho que eu – talvez uns 4 ou 5 anos – o que na nossa
juventude poderia corresponder a uma diferença de gerações. Tal só não
aconteceu entre nós, pelo facto de termos mantido sempre uma boa relação
de proximidade, fruto da constante partilha de ideias sobre o mundo de
então. Em especial, sobre os rumos do nosso continente.
- Vivemos o efervescente
período das independências africanas, um facto inédito que, ainda jovens,
seguíamos com atenção e com entusiasmo. Na altura, éramos apenas alguns, não
tantos como, por vezes, agora se quer fazer parecer. Mas éramos em número
suficiente para marcarmos a diferença. Estávamos do mesmo lado, participando
da dinâmica da vida que indicava novos caminhos para os povos colonizados.
- Na altura em que
conheci o Paulino Pinto João, ele era também uma referência de jovem interessado
no saber. E o facto de estudar no Instituto Comercial, sinalizava uma boa
perspectiva. Víamos nele um futuro quadro técnico de referência.
- O Pinto João sempre
me disse que o seu desejo era prosseguir os estudos ao nível superior, o
que só veio a suceder muito mais tarde. Nessa altura, quem quisesse
prosseguir os seus estudos na área das economias, ou afins, tinha que
seguir para Portugal, pois ainda não existia entre nós uma Faculdade de
Economia. Daí que o Paulino Pinto João tenha ficado pelo curso de Perito
Contabilista, de nível médio, mas de reconhecida competência, muito
requisitado e respeitado.
- A dinâmica da economia
colonial e da nossa sociedade da época fizerem requerer capacidades
técnicas cada vez maiores. As autoridades portuguesas perceberam, então,
que era imperioso incorporar na formação dos técnicos qualificados um número
cada vez maior de africanos, dando especial realce aos quadros médios que
serviriam, depois, de suporte aos poucos quadros superiores.
- O Paulino Pinto João
foi dos primeiros da nossa geração a tornar-se Perito Contabilista. Mas
ele não era apenas isso. Ele era, como já disse, “um dos nossos”, um dos
que partilhava comigo o “sonho” de ver a África independente. Esse era um
tema recorrente nos nossos encontros. O que, afinal, aprofundou a nossa
amizade, uma amizade nunca perturbada pelos desencontros do pós-independência.
- Jamais fomos contaminados
pelo “vírus” da disputa sem regras e sem princípios que se apossou da
nossa sociedade. O Paulino Pinto João sempre procurou preservar a amizade
pessoal. Foi ministro, ocupou um lugar destacado no seio do MPLA, o que o
colocou num degrau capaz de inspirar certo medo.
- Alguns o guardarão
na memória como ”O homem da ideologia”… Daquela ideologia que separava os
angolanos em “camaradas” e “inimigos”. Mas, na minha memória ele será para
sempre o meu Amigo, que nunca me marginalizou, sempre solidário até ao
fim.
- Vou, pois, ter
muitas saudades do Paulino Pinto João!
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