1. Esta manhã, quando me dirigia à
Universidade, o meu filho Nelito ligou para mim, não só para me saudar e saber
como tinha passado o dia de ontem, como também para pedir-me opinião sobre a
possibilidade de o “Yuan” - a moeda oficial chinesa - vir a ter livre curso em
Angola.
2. A questão de uma eventual livre
circulação do “Yuan” no nosso país começou a ser colocada aquando da visita de
José Eduardo dos Santos à China. Esta e outras questões tornaram-se, pois, tema
de debate, tendo mesmo ocupado largos espaços nas redes sociais, muitas vezes
envolvidos em grande emotividade. É sempre salutar que os cidadãos se preocupem
com a sua economia e a sociedade. Nada disso se deve ver com “subversivo”.
3. É evidente que, pela complexidade do
assunto, tratá-lo de forma séria e profunda requer espaço adequado e tempo
bastante, pois não se trata de um assunto linear e apenas com implicações de
curto prazo. A entrada de mais uma moeda forte no mercado do nosso país tem
repercussões estruturais que não podem ser negligenciadas.
4. Para encurtar caminho e ao mesmo
tempo procurar satisfazer a curiosidade do meu filho Nelito, lá lhe fui dizendo
que, a ser verdade aquilo que já se comenta, teríamos então 4 moedas a circular
na nossa economia, mesmo que uma delas - o “Euro” - seja quase sempre procurada
por quem pretende sair do país com destino ao espaço da EuroZona. O “Dólar” é
aquela que mais circula na economia internacional.
5. O “Kwanza”- a nossa moeda oficial - e
o “Dólar” - a moeda norte-americana - são dominantes entre nós, e o “Yuan”
passaria então a rivalizar com elas, com forte probabilidade de se vir a
afirmar no mercado, dado o volume das transações que o nosso país realiza com a
China, que tendem mesmo a aumentar com o incremento dos acordos comerciais e
financeiros.
6. O meu receio, porém, é que o “Kwanza”
venha a perder competitividade, pelo facto de a moeda chinesa ter um suporte
administrativo muito grande, o que faz que ela seja hoje um dos principais cavalos
de batalha, no relacionamento económico entre a China e as autoridades
norte-americanas e europeias. É que a moeda americana e a europeia têm o seu
valor relativo definido pelas regras do mercado, o que não sucede com a moeda
chinesa, livremente manipulada pelas autoridades chinesas, provocando
desequilíbrios.
7. Se a moeda chinesa tiver livre curso
em Angola, a tendência natural será as empresas chinesas aqui instaladas transacionarem
em “Yuan”, e não em “Kwanzas”.
8. Os angolanos que compram produtos na
China – e não são poucos – procurarão também acumular “Yuans”, para mais
facilmente realizarem as suas transações naquele país. O “Kwanza” estará, pois,
a competir com uma moeda demasiado alavancada pelas autoridades do seu país, um
país que possui das mais elevadas reservas internacionais do mundo.
9. Foi isso o que eu disse ao meu filho
Nelito, ele que é, tal como eu, muito atento aos fenómenos internacionais, quer
políticos, quer económicos, quer sociais. O que me dá orgulho.
10.
Tão logo acabei essa conversa, surgiu a notícia de que a China estaria a
viver uma situação de “crash” na sua Bolsa, com um afundamento em 32% da “Bolsa
de Xangai”, apenas num mês, facto que levou a suspensão de 75% das empresas
cotadas nessa Bolsa.
11.
Diz-se agora que a actual situação na China faz recordar aquela que se
viveu nos EUA no ano de 1929, quando rebentou a “bolha especulativa” que levou
ao fenómeno que ficou para a história com o nome de “A Grande Depressão”,
antecedente à instalação do fascismo e do nazismo na Europa. E à “caça às
bruxas”, nos Estados Unidos.
12.
A presente “bolha especulativa” na China é vista nos seguintes termos por
um analista financeiro internacional: “Tudo aconteceu pelo facto de uma
significativa parte do mercado ter investido com recurso à “leverage”
(alavancagem), uma opção que em casos de inversão rápida da tendência,
tipicamente implica fortes variações, quando as posições de investimento são
fechadas abruptamente”. Ou seja: o mercado bolsista estava a ser estimulado por
margens bastante atractivas, aliadas a um crédito fácil, o que conduziu a uma
sobrevalorização dos activos”. Até que a “bolha” estourou.
13.
O “crash” da Bolsa chinesa, já visto como um verdadeiro “tsunami”, está a
afectar em cadeia uma série de empresas, um pouco por todo o mundo. Está,
inclusive, a perturbar o mercado das matérias-primas, de que a China é o
principal cliente mundial.
14.
As autoridades chinesas buscam agora soluções imediatas para esta crise
como, por exemplo: impedindo a venda de acções por accionistas qualificados,
suspensão de novas entradas na Bolsa, injecção de liquidez, criação de um fundo
apoiado por vários intermediários financeiros, e até compras por parte de
fundos de pensões do país. Medidas que ainda não produziram os efeitos
esperados. Temos, pois, aqui, conversa para prosseguir e sobre a qual devemos
reflectir.
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