quinta-feira, 12 de maio de 2016

NOVAS DESCOBERTAS NÃO SERÃO SEMPRE MAIS RIQUEZA


1.  No dia 13 de Abril deste ano, a Sonangol anunciou a descoberta, nas bacias do Kwanza e do Congo, de novas reservas de petróleo e gás natural que podem comportar 2,2 mil milhões de barris de óleo equivalente. A confirmarem-se tais previsões, Angola poderá atingir a almejada meta de produção de 2 milhões de barris de petróleo/dia, contra os actuais 1,8 milhões de barris/dia. Ouvi essa notícia - embora deformada – numa das rádios locais.



2.  A notícia soou-me “deformada”, pelo facto de, na sua transmissão, ter-se confundido volume do depósito com capacidade de produção diária dos poços, dois conceitos muito distintos, pois, uma coisa é o volume das reservas descobertas, ou seja, a quantidade que se estima estar depositada nos poços, e outra é a produção diária dos poços.



3.  No comunicado da Sonangol apenas se fez referência às expectativas do potencial dos dois poços localizados na bacia do Kwanza, nomeadamente, o Lontra - 1, do bolco 20/15, com uma estimativa de 570 milhões de barris de óleo equivalente, e o Katambi -1, do bloco 24/11, com uma estimativa de 1,7 mil milhões de barris de óleo equivalente. Sobre o potencial poço da bacia do Congo, o Lira – 1, do bloco 15/14, nada foi dito.



4.  Nos últimos anos, tem sido constante o anúncio de novas descobertas de petróleo e gás natural no nosso país. Por exemplo, em 2014, a Sonangol deu especial àquilo a que chamou “a maior descoberta de petróleo” na camada do pré-sal da bacia do Kwanza. Tratou-se do poço Orca, do bloco 20/11, numa profundidade de mais de 3.800 metros, capaz de produzir 3.700 barris de petróleo/dia e 16,3 milhões de metros cúbicos de gás. O bloco 20/11 é operado pela Cobalt, que detém 40% do capital, sendo os restantes 60% repartidos em partes iguais pela Sonangol e pela multinacional britânica BP.



5.  A tecnologia de perfuração dos poços de petróleo evoluiu muito ao longo do tempo, ao ponto de ter desvendado um enorme potencial existente nas camadas do pré-sal, o que gerou sonhos de maior riqueza não só em Angola mas, muito particularmente, no Brasil, onde se situam dos seus maiores reservatórios. Vivia-se, ainda, a época dos preços altos.



6.  As mais recentes descobertas de petróleo e gás natural em Angola situam-se, precisamente, em camadas cada vez mais profundas, facto que encarece demasiado os custos de produção.



7.  Dados os actuais preços vigentes nos mercados internacionais, quer para o crude, quer para o gás, não é, pois, de estranhar que nos questionemos sobre o real impacto dessas novas descobertas na nossa economia. Isto é, se as novas jazidas agora festejadas contribuirão significativamente, ou não, para a saída da crise económica que hoje atravessamos – uma crise que já não tem hipóteses de ser disfarçada.



8.  Recordo que o crude representa 97% das nossas receitas de exportação e cerca de 80% das receitas fiscais. A manterem-se os preços relativamente baixos que hoje conhecemos, qual será, então, o real impacto das novas descobertas?



9.  Fruto da má conjuntura actual, a tendência será para um aumento do nosso endividamento, numa dívida saldada por via das receitas de exportação. Não seria, pois, interessante avaliarmos, comparativamente, a velocidade de crescimento da nossa dívida, com a velocidade do acréscimo das receitas geradas pelas novas descobertas?



10.                  Não será que a presente geração de angolanos está apenas a exaurir boa parte dos recursos naturais que o nosso país possui, sem, contudo, deixar para os angolanos que virão depois de nós, uma estrutura económica que lhes garanta sustentabilidade?

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