1. No
dia 13 de Abril deste ano, a Sonangol anunciou a descoberta, nas bacias do
Kwanza e do Congo, de novas reservas de petróleo e gás natural que podem
comportar 2,2 mil milhões de barris de óleo equivalente. A confirmarem-se tais
previsões, Angola poderá atingir a almejada meta de produção de 2 milhões de
barris de petróleo/dia, contra os actuais 1,8 milhões de barris/dia. Ouvi essa notícia
- embora deformada – numa das rádios locais.
2. A
notícia soou-me “deformada”, pelo facto de, na sua transmissão, ter-se
confundido volume do depósito com capacidade de produção diária dos poços, dois
conceitos muito distintos, pois, uma coisa é o volume das reservas descobertas,
ou seja, a quantidade que se estima estar depositada nos poços, e outra é a
produção diária dos poços.
3. No
comunicado da Sonangol apenas se fez referência às expectativas do potencial
dos dois poços localizados na bacia do Kwanza, nomeadamente, o Lontra - 1, do
bolco 20/15, com uma estimativa de 570 milhões de barris de óleo equivalente, e
o Katambi -1, do bloco 24/11, com uma estimativa de 1,7 mil milhões de barris
de óleo equivalente. Sobre o potencial poço da bacia do Congo, o Lira – 1, do
bloco 15/14, nada foi dito.
4. Nos
últimos anos, tem sido constante o anúncio de novas descobertas de petróleo e
gás natural no nosso país. Por exemplo, em 2014, a Sonangol deu especial àquilo
a que chamou “a maior descoberta de petróleo” na camada do pré-sal da bacia do
Kwanza. Tratou-se do poço Orca, do bloco 20/11, numa profundidade de mais de
3.800 metros, capaz de produzir 3.700 barris de petróleo/dia e 16,3 milhões de
metros cúbicos de gás. O bloco 20/11 é operado pela Cobalt, que detém 40% do
capital, sendo os restantes 60% repartidos em partes iguais pela Sonangol e
pela multinacional britânica BP.
5. A
tecnologia de perfuração dos poços de petróleo evoluiu muito ao longo do tempo,
ao ponto de ter desvendado um enorme potencial existente nas camadas do
pré-sal, o que gerou sonhos de maior riqueza não só em Angola mas, muito
particularmente, no Brasil, onde se situam dos seus maiores reservatórios.
Vivia-se, ainda, a época dos preços altos.
6. As
mais recentes descobertas de petróleo e gás natural em Angola situam-se, precisamente,
em camadas cada vez mais profundas, facto que encarece demasiado os custos de
produção.
7. Dados
os actuais preços vigentes nos mercados internacionais, quer para o crude, quer
para o gás, não é, pois, de estranhar que nos questionemos sobre o real impacto
dessas novas descobertas na nossa economia. Isto é, se as novas jazidas agora
festejadas contribuirão significativamente, ou não, para a saída da crise económica
que hoje atravessamos – uma crise que já não tem hipóteses de ser disfarçada.
8. Recordo
que o crude representa 97% das nossas receitas de exportação e cerca de 80% das
receitas fiscais. A manterem-se os preços relativamente baixos que hoje
conhecemos, qual será, então, o real impacto das novas descobertas?
9. Fruto
da má conjuntura actual, a tendência será para um aumento do nosso
endividamento, numa dívida saldada por via das receitas de exportação. Não
seria, pois, interessante avaliarmos, comparativamente, a velocidade de
crescimento da nossa dívida, com a velocidade do acréscimo das receitas geradas
pelas novas descobertas?
10.
Não será que a presente geração de angolanos
está apenas a exaurir boa parte dos recursos naturais que o nosso país possui,
sem, contudo, deixar para os angolanos que virão depois de nós, uma estrutura
económica que lhes garanta sustentabilidade?
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