sexta-feira, 13 de junho de 2014

RÚSSIA E CHINA – A TROCA DE FAVORES


  1. A mais recente visita do presidente russo, Vladimir Putin, à China, visou dois objectivos que podem ser aqui bem especificados: aprofundar os laços de cooperação política entre os seus dois grandes Estados, e incrementar as relações económicas.

 

  1. Qualquer um dos objectivos respalda-se no facto de a Rússia estar a atravessar um mau momento nas suas relações com o Ocidente, quer ao nível político, quer a nível económico e, por isso mesmo, ter urgente necessidade de se virar mais para leste, especialmente, para a China, dado o crescente peso político e económico que, no momento, este país ostenta.

 

  1. À China também interessa um maior estreitamento dos laços com a Rússia, para contrabalançar a actual tensão nas suas relações fronteiriças com o Vietname, e igualmente na disputa com o Japão de algumas ilhas estratégicas, embora praticamente despovoadas.

 

  1. A tensão com o Vietname, sempre latente, despoletou depois de a China ter, unilateralmente, decidido instalar uma plataforma de perfuração de petróleo perto das ilhas Paracel, situadas na parte meridional do Mar da China, ilhas reivindicadas pelos vietnamitas e igualmente pela China. O Vietname alega que as ilhas fazem parte da sua plataforma continental, mas a China desvaloriza tal facto geofísico.

 

  1. A empresa chinesa envolvida a acção, a gigante China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), é das mais importantes do seu império empresarial. Da sua acção advieram distúrbios anti-chineses em território vietnamita, tidos já como dos mais graves das últimas décadas.

 

  1. Recordo que se trata de dois países vizinhos, seguindo o mesmo modelo de sociedade e de estado, que lutaram lado a lado contra os EUA. Durante a luta contra os norte-americanos, Moscovo esteve também ao lado do Vietname, sendo dos seus suportes mais firmes e garantido. Agora, passados os anos da solidariedade ideológica, temos face a face, em disputa feroz, velhos aliados.

 

  1. Se a China conseguir o apoio político de Moscovo nas suas disputas com o Vietname e o Japão, terá, pois, não apenas mais facilidades para dirimir o seu conflito com esses países e, por extensão, com o Ocidente, parceiro tradicional do Japão e, também, parceiro ocasional do Vietname, quanto mais não seja, com o objectivo de ver reduzida a expressão política da China naquela parte do mundo.

 

  1. Uma contrapartida a ser concedida pela China, poderá ser o não apoio a algumas pretensões separatistas que proliferam um pouco por todo o lado da porção asiática da Rússia – o que funcionaria, pois, como uma verdadeira troca de favores.

 

  1. Na sua relação conflituosa com a China, o Vietname vai, pela certa, buscar solidariedade no espaço da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), uma organização regional onde integra, juntamente a Indonésia, Filipinas, Malásia, Singapura, Brunei, Tailândia, Laos, Cambodja, Myanmar, e que tem procurado fortalecer os laços políticos e económicos com o mundo ocidental, assim como com o Japão. Não é, pois, de estranhar que a China procure apoiar-se politicamente da Rússia na sua presente contenda com o Vietname.

 

  1. Em relação ao Japão, e na sua frenética busca por recursos naturais, a hostilidade dos chineses não é menor, no que diz respeito à disputa pelas Ilhas Senkaku, reivindicadas por ambos os países e, também, por Taiwan. As Ilhas Senkaku (Diaoyu, em chinês) são importantes por serem local de passagem e habitat de cardumes, mas também por se suspeitar estarem num local onde abundarão enormes reservatórios de gás natural.

 

  1. Os EUA, através do seu mais alto mandatário, o Presidente Barack Obama, já declararam estar ao lado do Japão nesta contenda. Daí que seja compreensível o interesse da China em encontrar apoio por parte de Moscovo. E qual seria, então, a contrapartida oferecida pela China à Rússia? Possivelmente, o seu apoio na questão das Ilhas Kurilhas, situadas no extremo oriental da parte asiática da Rússia, defronte ao Arquipélago japonês, reivindicadas, simultaneamente, por Moscovo e por Tóquio.

 

  1. Nessa parte do mundo, a Esquadra Russa do Pacífico tem menor potencial bélico que os seus adversários mais directos, o Japão e, sobretudo, os EUA. Daí ser fundamental aproximar-se mais da China, também lá instalada com uma Esquadra de Guerra. Este xadrez político e militar ficaria ainda mais complexo pela presença nas redondezas de uma Esquadra Marítima Sul Coreana, aliada natural dos EUA.

 

  1. Julgo que Vladimir Putin terá colocado tudo isso em cima da mesa, na sua discussão política com o novo Presidente chinês, Xi Jiping. E não foi pouco, se tivermos em conta que a matéria económica foi igualmente objecto de tratamento prioritário, com especial destaque para as questões energéticas, particularmente, o gás natural, de que a China é carente, e a Rússia tem excedentes para vender, e que, como é lógico, será sempre um bom instrumento de posicionamento estratégico num processo de negociação.

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