RÚSSIA E CHINA – A TROCA DE FAVORES
- A mais recente
visita do presidente russo, Vladimir Putin, à China, visou dois objectivos
que podem ser aqui bem especificados: aprofundar os laços de cooperação
política entre os seus dois grandes Estados, e incrementar as relações
económicas.
- Qualquer um dos
objectivos respalda-se no facto de a Rússia estar a atravessar um mau
momento nas suas relações com o Ocidente, quer ao nível político, quer a
nível económico e, por isso mesmo, ter urgente necessidade de se virar
mais para leste, especialmente, para a China, dado o crescente peso
político e económico que, no momento, este país ostenta.
- À China também
interessa um maior estreitamento dos laços com a Rússia, para
contrabalançar a actual tensão nas suas relações fronteiriças com o
Vietname, e igualmente na disputa com o Japão de algumas ilhas
estratégicas, embora praticamente despovoadas.
- A tensão com o
Vietname, sempre latente, despoletou depois de a China ter,
unilateralmente, decidido instalar uma plataforma de perfuração de
petróleo perto das ilhas Paracel, situadas na parte meridional do Mar da
China, ilhas reivindicadas pelos vietnamitas e igualmente pela China. O
Vietname alega que as ilhas fazem parte da sua plataforma continental, mas
a China desvaloriza tal facto geofísico.
- A empresa chinesa
envolvida a acção, a gigante China National Offshore Oil Corporation
(CNOOC), é das mais importantes do seu império empresarial. Da sua acção
advieram distúrbios anti-chineses em território vietnamita, tidos já como
dos mais graves das últimas décadas.
- Recordo que se trata
de dois países vizinhos, seguindo o mesmo modelo de sociedade e de estado,
que lutaram lado a lado contra os EUA. Durante a luta contra os
norte-americanos, Moscovo esteve também ao lado do Vietname, sendo dos
seus suportes mais firmes e garantido. Agora, passados os anos da
solidariedade ideológica, temos face a face, em disputa feroz, velhos
aliados.
- Se a China conseguir
o apoio político de Moscovo nas suas disputas com o Vietname e o Japão,
terá, pois, não apenas mais facilidades para dirimir o seu conflito com
esses países e, por extensão, com o Ocidente, parceiro tradicional do
Japão e, também, parceiro ocasional do Vietname, quanto mais não seja, com
o objectivo de ver reduzida a expressão política da China naquela parte do
mundo.
- Uma contrapartida a
ser concedida pela China, poderá ser o não apoio a algumas pretensões
separatistas que proliferam um pouco por todo o lado da porção asiática da
Rússia – o que funcionaria, pois, como uma verdadeira troca de favores.
- Na sua relação
conflituosa com a China, o Vietname vai, pela certa, buscar solidariedade
no espaço da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), uma
organização regional onde integra, juntamente a Indonésia, Filipinas,
Malásia, Singapura, Brunei, Tailândia, Laos, Cambodja, Myanmar, e que tem
procurado fortalecer os laços políticos e económicos com o mundo
ocidental, assim como com o Japão. Não é, pois, de estranhar que a China
procure apoiar-se politicamente da Rússia na sua presente contenda com o
Vietname.
- Em relação ao Japão,
e na sua frenética busca por recursos naturais, a hostilidade dos chineses
não é menor, no que diz respeito à disputa pelas Ilhas Senkaku,
reivindicadas por ambos os países e, também, por Taiwan. As Ilhas Senkaku
(Diaoyu, em chinês) são importantes por serem local de passagem e habitat
de cardumes, mas também por se suspeitar estarem num local onde abundarão
enormes reservatórios de gás natural.
- Os EUA, através do
seu mais alto mandatário, o Presidente Barack Obama, já declararam estar
ao lado do Japão nesta contenda. Daí que seja compreensível o interesse da
China em encontrar apoio por parte de Moscovo. E qual seria, então, a
contrapartida oferecida pela China à Rússia? Possivelmente, o seu apoio na
questão das Ilhas Kurilhas, situadas no extremo oriental da parte asiática
da Rússia, defronte ao Arquipélago japonês, reivindicadas,
simultaneamente, por Moscovo e por Tóquio.
- Nessa parte do
mundo, a Esquadra Russa do Pacífico tem menor potencial bélico que os seus
adversários mais directos, o Japão e, sobretudo, os EUA. Daí ser
fundamental aproximar-se mais da China, também lá instalada com uma
Esquadra de Guerra. Este xadrez político e militar ficaria ainda mais
complexo pela presença nas redondezas de uma Esquadra Marítima Sul
Coreana, aliada natural dos EUA.
- Julgo que Vladimir
Putin terá colocado tudo isso em cima da mesa, na sua discussão política
com o novo Presidente chinês, Xi Jiping. E não foi pouco, se tivermos em
conta que a matéria económica foi igualmente objecto de tratamento
prioritário, com especial destaque para as questões energéticas,
particularmente, o gás natural, de que a China é carente, e a Rússia tem
excedentes para vender, e que, como é lógico, será sempre um bom instrumento
de posicionamento estratégico num processo de negociação.
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