UMA GEOPOLÍTICA MUITO COMPLICADA
- O avanço em
território iraquiano das forças extremistas do denominado Estado Islâmico
do Iraque e do Levante, já produziu efeitos na economia mundial, a começar
pela subida do preço do petróleo.
- Os Estados mais dependentes
da importação de petróleo como, por exemplo, a Europa, serão os mais
afectados pela actual crise, o que sucederá também com a China. Os seus
reflexos sentir-se-ão, igualmente, sobre as economias de alguns países exportadores
de petróleo, como a nossa, que aumentarão, em consequência, a sua
arrecadação de divisas, não obstante virem elas também a ser vítimas da
alta dos preços de outros bens, que apanharão, por tabela, os impactos da
subida do preço do petróleo. Haverá como que um “efeito dominó” sobre a
economia mundial, até que tudo regresse à normalidade.
- Todavia, uma outra
questão poderá emergir desta nova situação: maior envolvimento
internacional no conflito do Iraque, dadas as conexões de carácter étnico
e religioso que se articulam na área geográfica em que o Iraque se situa.
Vou, muito rapidamente, passar uma vista de olhos sobre esta última
característica.
- Do ponto de vista
étnico, a população do Iraque é essencialmente árabe, mesmo que também habitado
por curdos e outras etnias minoritárias, como turcomanos e assírios. Se
olharmos, porém, para a sua dimensão religiosa, veremos as comunidades
muçulmanas repartidas por uma maioria xiita – cerca de 2/3 do total – e
por uma minoria de sunitas, com aproximadamente 1/3. Para além dos
muçulmanos existem, ainda, outras comunidades religiosas, como os cristãos,
e até judeus. E mesmo mais confissões religiosas, porém, menos
expressivas.
- Os curdos iraquianos
– comunidades não árabes – são maioritariamente sunitas, mesmo que haja um
certo número de xiitas. Os turcomanos do Iraque são praticamente todos
sunitas.
- Pela composição étnica
e religiosa dos países vizinhos do Iraque, podemos compreender melhor o
porquê de alguns dos alinhamentos políticos que actualmente se verificam.
Porquê que uns governos alinham como o actual governo do Iraque, e outros
com os rebeldes. Certamente, com base nas suas afinidades étnicas e,
sobretudo, religiosas.
- Do ponto de vista
religioso, o Irão é um país esmagadoramente muçulmano, mesmo não sendo um
país árabe. É povoado maioritariamente por persas, mas, também, por
azeris, curdos, árabes e outros povos. A facção islâmica predominante no
Irão é xiita, sendo os sunitas uma minoria. Os cristãos e os judeus são
insignificantes nesse país.
- Na Síria vemos
maioritariamente povos árabes, seguidos, de longe, por gente de etnia
curda, turca e arménia. Trata-se ainda de um pais muçulmano com
predominância do ramo sunita. Os restantes muçulmanos são alauítas – que
dominam verdadeiramente o poder – xiitas e drusos. Os cristãos representam
cerca de 10% da sua população.
- A Jordânia é um caso
muito especial, pois, etnicamente, a sua população é de origem
palestiniana. Nesse país há mesmo menos árabes jordanianos do que árabes
palestinianos. A Jordânia, istoricamente tem sido um ponto de acolhimento
da diáspora palestiniano, que já se tornou a maioria da população.
- A Arábia Saudita é uma
peça fundamental no actual imbróglio daquela região do Médio Oriente. Nação
essencialmente árabe tem também entre os seus habitantes afro-asiáticos e
beduínos. Do ponto de vista religioso, é um país maioritariamente
muçulmano do ramo sunita.
- E, como ver a
Turquia? Os turcos não são árabes, mas são muçulmanos maioritariamente
sunitas. A Turquia tem ainda a particularidade de possuir uma das mais
activas, expressivas e reivindicativas comunidades curdos do Médio
Oriente.
- Qualquer arranjo que
agora se pretenda, na perspectiva da estabilização da situação explosiva
que aquela região vive, tem que ter em conta estas duas importantíssimas
dimensões.
- Uma eventual divisão
do Iraque a partir dos ramos religiosos criaria, naturalmente, outros
problemas para o seu futuro, e para os futuro dos restantes Estados, sendo
o maior o dos curdos que ainda não abdicaram da constituição do seu
próprio Estado, a partir dos territórios que ocupam que no Iraque, na
Síria, no Irão, na Turquia, e até mesmo em algumas das ex-repúblicas
soviéticas da Ásia.
- Para mim, a
geopolítica daquela parte do mundo é das mais interessantes e complicadas
da actualidade. Merecendo, por isso, uma grande atenção.
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