1. As Agências de Notação de Risco de
Crédito, também conhecidas por Agências de Rating,
continuam a ter um forte poder de influência na economia e na política internacional,
mesmo que, num passado mais ou menos recente, algumas tenham sido pouco
rigorosas em suas avaliações. É o caso, por exemplo, da Standard & Poor´s (S&P)
que, no ano 2008, viu falir o Banco Lehman Brothers, depois de lhe ter dado nota
maculando, assim, a sua imagem e credibilidade.
2. A S&P avaliou positivamente a
saúde financeira do banco, garantindo, assim, a qualidade dos créditos
imobiliários “subprime” que estiveram na origem da enorme crise financeira que
abalou a economia norte-americana e que também afectou outras economias no resto
do mundo.
3. O impacto do erro da S&P foi tão
grande e tão desastroso que levou, em 2013, a Procuradoria Geral
norte-americana a intentar uma acção judicial contra a agência, considerando
que ela ignorou as fragilidades dos investimentos em produtos financeiros
hipotecários. O alto rating atribuído
ao banco estimulou a apetência dos investidores que depois se viram
defraudados, por terem adquirido produtos financeiros “tóxicos”.
4. Agora a S&P voltou a convocar a
atenção internacional, ao baixar o rating
da economia brasileira, passando-o de BBB- para BB+, ou seja, fazendo o Brasil
perder a condição de “bom pagador” (rating
de investimento de qualidade), e atirando-o para a condição de “lixo” (“junk”,
em inglês).
5. O rating
de “bom pagador” atrai investimentos por parte, por exemplo, dos grandes fundos
de pensões, enquanto a condição de “lixo” produz o efeito contrário, estimulando
os investidores mais especulativos que, por regra, cobram juros mais elevados nos
mercados de capitais.
6. Na altura em que escrevo este artigo,
apenas a S&P manifestou dúvidas sobre as possibilidades de o Brasil honrar
os seus compromissos. As outras duas agências de notação de risco de crédito,
as também famosas Fitch Ratings e Moody´s, ainda têm uma atitude mais comedida,
mesmo que emitindo sinais de puderem vir a seguir o mesmo caminho, baixando o rating do país.
7. Caso uma dessas duas agências coloque
o Brasil com o perfil de “lixo”, tudo ainda se complicará mais, pois há
instituições financeiras cujos estatutos impõem a obrigatoriedade de virar as
costas a parceiros desclassificados para “lixo” por, pelo menos, duas agências.
A S&P avaliou também negativamente certas empresas brasileiras, como a
Petrobras, e mais de uma dezena de instituições financeiras, administrações regionais
e cidades.
8. Descida a cotação do país, os fluxos
dos empréstimos tendem agora a diminuir, ficam mais onerosos, sobem os juros, a
moeda desvaloriza-se, há aplicações financeiras a emigrar em busca de mercados
mais seguros, sobe a inflação, a economia perde impulso e aumenta o desemprego.
Sopram, pois, ventos muito aziagos sobre o Brasil - a sétima economia do mundo
- momento também não muito bom para mais economias emergentes, como a China e a
Rússia, por exemplo.
9. O Brasil não tem conseguido implementar
políticas mais rigorosas, fruto, em parte, dos compromissos sociais assumidos
pela anterior administração e seguidos pela actual, cujo reflexo é o Orçamento
do Estado para 2016 com défice primário de 30,5 mil milhões de reais, situação
agravada com os sucessivos escândalos de corrupção que minam a credibilidade da
classe política e de empresários articulados com ela.
10.
É bom que o mau momento vivido pelo
Brasil sirva para reflexão no nosso país e para os nossos governantes. Apesar
de tudo, mesmo em crise, o Brasil tem uma porta por onde poderá escapar sem
grandes traumas, dado que se trata de uma democracia, não precisando, portanto,
de “inventar” inimigos, para depois perseguir ou mesmo reprimir…
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