1.
Ao
contrário do que sucedeu aquando da crise financeira iniciada em 2008, nos EUA
e, depois, propagada para a Europa e outras partes do mundo, o começo do
declínio do preço do petróleo no mercado internacional tem sido acompanhado,
por parte das autoridades angolanas, com declarações de visível preocupação.
Desencadeou-se, então, uma onda de cuidados e medidas para prevenir ou
minimizar os inevitáveis impactos negativos resultantes de uma tal situação.
2.
Nota-se,
pois, uma clara diferença de comportamentos face à crise de 2008. Nessa altura,
o Presidente da República manteve-se, durante muito tempo, em profundo
silêncio, pronunciando-se somente quando a crise já estava a causar malefícios sobre
a nossa economia. Ela ia varrendo literalmente sectores económicos geradores de
rendimentos e criadores de volumosos empregos, como são os casos da construção
civil e do comércio, para citar apenas estes.
3.
Face
ao silêncio tumular de José Eduardo dos Santos, os Ministros e outras
autoridades foram falando e agindo como se nada estivesse a acontecer… Alguns
até se atreveram a dizer que a nossa economia estava perfeitamente “blindada”,
sendo, por isso, capaz de resistir aos mais violentos “bombardeamentos”
causadas pela crise internacional que, entretanto, fazia os seus estragos quer
lá fora, quer aqui entre nós.
4.
Desta
vez, porém, José Eduardo dos Santos antecipou-se, sendo o primeiro a declarar,
publicamente, que os impactos da baixa do preço do petróleo seriam
tremendamente negativos para a performance da nossa economia. Com tal assunção,
os seus dependentes directos (subordinados na governação) ganharam coragem e,
eles também, assumem já que “as coisas não estão bem” e que, por esse facto,
medidas urgentes terão que ser tomadas.
5.
Adivinho,
pois, que a “crise actual” irá ser o “alibi perfeito” para justificar todos os
incumprimentos que se avizinham. Tal como tem sucedido com o vetusto “passado
colonial” que é, não poucas vezes, rebuscado, para fazer a figura do culpado
por todos os males que, 40 anos depois, nos afligem…
6.
Quando,
por exemplo, se aborda a problemática de Luanda e o seu desconcerto, o
argumento é invariavelmente este: “A Cidade de Luanda foi planificada para 600
mil habitantes e hoje tem dez vezes mais…”. Assim, os decisores ficam em paz
com as suas consciências… Passando, indirectamente, a responsabilidade por
termos a cidade que hoje temos, desordenada, entupida, descaracterizada, ao
colono… Pois ele não teve capacidade de prever que, 40 anos depois, teríamos
aqui mais de 6 milhões de habitantes…
7.
É
verdade que a guerra que se seguiu à Independência e o consequente êxodo das
populações tiveram a sua quota-parte de responsabilidade neste actual
sobrepovoamento da nossa capital. Mas, também é verdade que as políticas
económicas e sociais, da responsabilidade de quem nos tem governado até hoje,
conduziram-nos a esta espécie de beco sem saída... Isto não pode ser
escamoteado.
8.
A declarada ambição de fazer de Luanda “uma
espécie de Brasília ou Nova Iorque”, enchendo-a, por exemplo, de prédios altos
no centro, não só matam a velha beleza que a cidade tinha, como tem também,
progressivamente, eliminado a sua herança histórica, caracterizada por uma
arquitectura muito peculiar. Para já não falar no caos do trânsito e nos
impactos ambientais provocados pelo acúmulo de betão no centro e pela
eliminação dos espaços verdes. É preciso, pois, assumir que a cidade que temos
hoje, tal como ela está, é da inteira responsabilidade de quem a tem governado,
e de quem governa o país no seu conjunto.
9.
Mas,
voltando à crise económica e financeira. O contexto internacional tem a sua
quota-parte de responsabilidade na situação que hoje vivemos, mas não deixa de
ser verdade que a má utilização dos resultados do petróleo contribuiu também
para a nossa presente extrema dependência desse produto. O que tornou a nossa
economia tremendamente vulnerável. E, ao contrário do que seria expectável, as
muito propaladas reservas internacionais líquidas de divisas não têm sido tidas
nem achadas para virem em socorro da nossa economia nesta época de crise. Será
que a sua dissipação é ainda da responsabilidade de outros que não os
governantes?
Sem comentários:
Enviar um comentário